Na casa do meu primo guilherme, lá no quarto dele tinha um quadrop que me fscinava. Era o famoso quadro do “dinossauro da rodovia”. Este é um post em homenagem a esta obra magnífica que trago para você contemplar em todo seu esplendor:
Para um bacuri da geração Z, ou mesmo um usuario afeito às imagens impressionantes e dramáticas da Inteligência Artificial, que trouxeram o impossível para o mundo real, pode não parecer grande coisa, mas isso nos anos oitenta era o suprassumo da parada maneira!
Me afetou e ja afeitou muita gente. Eu ja passei horas da vida olhando ese quadro e viajando em seus detalhes. Imaginando a cena, a confusão, a vaquinha… as usinas nucleares la no fundo e teorizando: Um portal trouxe o dinossauro para o presente? Seria uma experiência genética-nuclear? Será que alguém do carro capotado se machucou?
A origem do quadro bizarro diossauro da estrada
O quadro se chama (popularmente) de “dinossauro na rodovia” (do original em alemão Dinosaurier auf der Autobahn). Esse quadro foi pintado em 1980 pelo artista suíço Giuseppe Reichmuth para atender uma encomenda do amigo Albert Ernst que era dono de uma galeria de arte em Zurique. Ele pretendia expor a obra na exposição “Green 80”, na cidade de Basileia sob sua curadoria e queria uma obra inédita e pitoresca de Reichmuth. O quadro (tela original medindo 90 x 120 cm) que foi pintado em estilo hiper-realista, mostra um Brontossauro atravessando majestoso uma rodovia nas proximidades de Basileia, enquanto os veículos tombam, espatifando-se ao longo da mesma. As cópias dessa pintura se tornaram uma febre no Brasil e em especial na região Nordeste nos anos 90. No estado do Maranhão, por exemplo, eram vendidas nas feiras populares ou pelos caixeiros viajantes que percorriam longos caminhos até os mais remotos lugarejos, carregando consigo além de quadros, redes, espelhos, pratos, panelas etc. Nas paredes de taipa ou alvenaria sem reboco, o dinossauro na rodovia aprisionava olhares ostentando sua enigmática e assombrosa beleza ao lado da última ceia de Leonardo da Vinci e de outras imagens sacras barrocas ou renascentistas.
O dinossauro na rodovia fez tanto sucesso que ganhou três versões brasileiras também muito inusitadas: dinossauro na praia, dinossauro fórmula 1 e dinossauro no outdoor. As pinturas brasileiras são de autoria do pintor carioca Valentim Keppt e foram encomendadas pela estamparia paulistana Martinelli, fundada em 1935, que pretendia diversificar sua produção, até então voltada para temas religiosos, como aqueles ilustrados nos folhetos distribuídos pelas testemunhas de Jeová.
A popularidade desses quadros cresceu por causa do preço acessível e da pirataria. Era comum encontrá-los em feiras, praças e lojas de produtos importados, muitas vezes vindos do Paraguai, que dominavam o mercado na época (hoje substituídos majoritariamente por produtos chineses). Nos anos 1990, itens como o famoso “guarda-chuva da Madonna“, quadros de motos e caminhões em chamas no deserto, além de papéis de carta infantis, eram febre. Ter essas imagens em casa, inspiradas na pop-art, era sinal de status ou tendência.
A M.a.r.t.i.n.e.l.l.i., fundada em São Paulo em 1935, começou como uma empresa de estampas religiosas. Quem nunca viu aquelas imagens de leões e pessoas vivendo em harmonia em um paraíso, típicas de panfletos das Testemunhas de Jeová? Pois é, muitas delas são da Martinelli. A partir de 1953, a empresa expandiu sua atuação para camisetas, quadros e embalagens.
Em 1995, os irmãos sócios decidiram encerrar as atividades gráficas, criando a Estamparia Martinelli Ltda., com sede no bairro da Aclimação, em São Paulo. A empresa passou a produzir estampas religiosas, bíblicas, paisagens e santinhos, além de trabalhar com transfer serigráfico, fotolito e materiais para artesanato, como decoupage e scrapbook.
Em 2004, surgiu a Martinelli Art, com uma linha de prints e pôsteres voltada para distribuição nacional e exportação. Em 2007, a empresa lançou a Enquadr’Art, com pôsteres para fabricantes de quadros. Já em 2014, foi criada a Martinelli Quadros, oferecendo produtos em canvas digital para diversos ambientes, em formatos grandes. No acervo da empresa, há milhares de imagens em alta qualidade disponíveis para compra.
Mas embora os quadros super coloridos da Martinelli tenham feito algum sucesso, eles não se comparavam ao original em fama e adesão afetiva criados por Giuseppe Reichmuth .
Formado na conceituada Kunstgewerbeschule Zürich, a Escola de Artes Aplicadas de Zurique, curiosamente teve os grandes sucessos em sua trajetória em excessões na sua técnica.
Os dois quadros que lançaram Reichmuth para todo o planeta são hiper-realistas – uma prática que ele não voltaria a visitar em sua obra, que prossegue na ativa até hoje.
O primeiro foi Zurich Ice Age, de 1975, uma belíssima paisagem que trouxe um ousado e maravilhoso resultado final – e que se transformou em populares cartões postais à época.
O proprio artista contou como lhe ocorreu a ideia de botar um doinossauro numa estrada moderna em seu site e se lembra que embora tivesse sido encomendada para um evento, a obra levou tempo para ser concluída:
“Na verdade, o pôster só ficou pronto depois que o ‘Green 80’ já tinha acabado”
Já que era uma encomenda, entregou a arte para o cartaz e cobrou 4 mil francos. Tanto que o nome de Reichmuth sequer aparece assinado. “Alguns anos depois, as pessoas dos EUA voltaram e disseram que tinham acabado de ver o dinossauro como em cartazes, mas também em camisetas”.
Ou seja, a década seguinte seria simplesmente tomada pelos dinossauros na rodovia – mas a grana dessa explosão, infelizmente, não chegaria aos bolsos de Reichmuth. Mas, como é possível notar em entrevistas e perfis com o artista, não é algo que ele carregue como uma grande mágoa ou drama.
Ainda hoje, o dinossauro na rodovia é uma memoria afetiva de muita gente.