Lichtenberg figure, o mais estranho tipo de marca corporal

Volta e meia vemos pessoas se esmerando com tatuagens complexas, alargadores de orelhas, nariz, piercings, implantes, escarificação e tudo mais. Há uma busca por se diferenciar, por criar uma identidade própria num mundo cada vez mais uniforme, marcado pela industrialização e produção de massa, e dessa necessidade advém a modificação corporal, muitas vezes buscando influencias nas modificações corporais de diversas tribos pelo mundo.

Mas existe um tipo curioso de marca corporal, produzida por uma ação externa ao indivíduo que é talvez a uma das mais bizarras  – senão a  mais bizarra – marca que uma pessoa pode ostentar na pele.  Ela se chama Lichtenberg figure.

Essa marca corporal é bastante rara, e uma das razões para isso é que a ampla maioria das pessoas que tem esta marca estão mortas!

Isso porque uma Lichtenberg figure é produzida na pele humana quando um raio atinge uma pessoa. No mundo, um numero enorme de pessoas são atingidas direta e indiretamente por raios a cada ano, mas há uma escassez e dados compilados sobre o quanto estamos sujeitos a ser atingidos por descargas elétricas naturais.

Felizmente, pelo fato de o Brasil ser o país do mundo onde mais caem raios, temos um bom histórico de registros. No Brasil OCORREM 132 MORTES POR ANO devido a descargas elétricas atmosféricas, o que nos coloca na quinta posição de fatalidade entre os países com estatísticas confiáveis.

Curiosamente, a probabilidade de um homem ser atingido por uma dessas descargas, é dez vezes maior que a de uma mulher tomar um raio. Além disso, a probabilidade de ser vítima de um raio na fase adulta é o dobro da representada tanto por jovens quanto idosos. Viver na zona rural ou urbana também altera essas chances. Na área rural, a probabilidade de receber uma descarga é dez vezes maior.

Sabemos tudo isso com base nos resultados do levantamento de mortes por raios da década – dados de 2000 a 2009 – que foi elaborado pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo reuniu pela primeira vez informações de diversos órgãos brasileiros como Elat/Inpe do Ministério da Ciência e Tecnologia, Departamento de Informações e Análise Epidemiológica (CGIAE) do Ministério da Saúde, Defesa Civil, veículos de imprensa e dados de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na década passada, no Brasil, morreram 1.321 pessoas atingidas por raios, número muito acima das estimativas disponíveis antes do estudo (as menos conservadoras indicavam cerca de 100 mortes). O que essas vítimas tinham em comum eram as atividades que praticavam quando foram atingidas pelas descargas. Exatos 19% das vítimas eram trabalhadores rurais que recolhiam animais ou se ocupavam de plantações com enxadas, pás e facões. A segunda circunstância mais comum foi estarem próximas aos meios de transportes (14%), cujas estruturas metálicas elevam a chance de receber descarga. Aqui convém ressaltar que refugiar-se no interior de um veículo, como um automóvel ou avião, é seguro. A sorte de um piloto e seu copiloto em 2008, no interior de São Paulo, poderia ter sido diferente se eles tivessem seguido essa recomendação. Ambos perceberam a aproximação de uma tempestade com o avião pousado em uma fazenda e buscaram abrigo sob uma das asas e morreram atingidos por um raio. Se tivessem entrado, sobreviveriam.

Quando uma pessoa é atingida por uma descarga elétrica, a energia vai trafegar pela pessoa em busca do solo. Em algumas pessoas, a energia não adentra o corpo, e percorre um caminho tortuoso ela superfície da pele. Ao fazer isso, o raio estoura os capilares, que são vasos sanguíneos muito, muito finos.

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Esse estouro sucessivo de capilares, produz um tipo de tatuagem na derme, que revela um padrão fractal conhecido como “fern”. É um padrão de ramificação. Algo assim. É este tipo de padrão que se chama figura de Lichtenberg:

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Ter este padrão marcado na pele indica que a pessoa recebeu uma violenta descarga elétrica. O padrão ganhou este nome numa homenagem ao físico alemão Georg Christoph Lichtenberg que  descobriu o padrão e o estudou. Inicialmente, ele imaginou que o fenômeno poderia explicar a natureza dos fluidos elétricos positivo e negativo, como se imaginava a eletricidade na sua época. O cara estava tentando entender o padrão, e por acaso, suas pesquisas conduziram ao processo hoje usado pela xerografia e impressão laser.

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Na pele dos azarados, o raio produz ramificações que podem persistir por horas ou dias. Eles também são um indicador útil para médicos legistas para determinar a causa da morte de uma vítima de raio. Figuras Lichtenberg que aparecem em pessoas costumam ser apelidadas de “flores de raios”. Um raio também pode criar uma grande figura Lichtenberg na grama ao redor do ponto atingido. Estas são algumas vezes encontrados em campos de golfe ou em prados verdejantes e também em areias de praia. As ramificação em forma de raiz “fulgurite” surgem quando a areia do solo é fundido em tubos vítreos pelo intenso calor da descarga elétrica:

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A incidência média de raios por ano no Brasil na última década foi de cerca de 57 milhões. O estado do Amazonas registrou o maior valor, com cerca de 11 milhões de raios. São Paulo registrou cerca de 2,3 milhões de raios por ano. Em relação a municípios, Manaus apresentou o maior número de fatalidades (16 casos), seguido por São Paulo com (14). O número de fatalidades não corresponde diretamente ao valor anual da incidência de raios no Brasil ponderado pela população de cada estado. Isso sugere que outros fatores, além da incidência de raios, devem ser considerados. Não se sabe quantas pessoas são atingidas e sobrevivem, porque muitos incidentes são em áreas rurais, e é difícil compilar este tipo de dado.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Prevejo um monte de punk, emo, masoquistas e outros malucos correndo adoidado nos campos rurais em busca de um raio que tatue suas peles… kkkkkkkkkk

  2. Famoso sinal de Lichtenberg, epônimo da medicina legal!
    Este ocorre em casos de fulguração, por eletricidade de ordem natural.
    Diferente dos casos de eletrocussão, em que aparece o sinal de Jellinek.

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