Frankenstein da vida real quer transplantar cabeça de gente

Quem diria que estamos cada vez mais perto do futuro distópico de Futurama, quando cabeças podem ser facilmente transplantadas.

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A nossa impressão não pode ser outra na medida em que no ano de 2013, o cirurgião chinês Ren Xiaoping realizou uma cirurgia histórica: ele basicamente trocou a cabeça de um rato e implantou-a com sucesso no corpo de outro rato! E o bicho sobreviveu! Acredite ou não, a criatura grotesca que ele acabara de criar manteve-se viva por alguns minutos. Ele abriu os olhos, e ainda conseguiu respirar por conta própria. A operação foi considerada um êxito, e, desde então, o médico excêntrico e sua equipe já realizaram transplantes de cabeça em mais de 1.000 ratos!

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É tão impressionante quanto assustador.

Com cada operação, o Dr. Ren tentou aperfeiçoava mais e mais o seu procedimento, que envolve a adoção de pequenos tubos para transportar sangue oxigenado dos cérebros dos ratos para os seus novos corpos. Depois de mais de 1.000 transplantes, os resultados ainda não são muito encorajadores. Após o procedimento, os ratos abriram os olhos, respiraram por conta própria e até mesmo mostraram sinais de movimento, mas até agora, cada um deles morreu dentro de um dia. Isso indica que há algum fator ainda não compreendido no transplante de cabeças. Eu não sei quanto a você, mas só a ideia de um rato com a cabeça de outro viver um dia inteiro respirando e até tentando se mover autonomamente me faz acreditar que estamos num filme B dos anos 50 e não na vida real.

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Embora seja assustador e até mesmo antiético, o Dr. Ren está tão motivado por seu modesto sucesso que ele quer continuar a experimentar em outras criaturas. De acordo com uma reportagem do Wall Street Journal, ele está planejando a realização de transplantes de cabeça em macacos, na esperança de criar o primeiro primata de cabeça transplantada que pode viver e respirar por conta própria, “pelo menos por um longo tempo”. Sim, porque como poderemos ver pelo vídeo do Universo Gump de hoje, não há nada de inédito no transplantar de uma cabeça de macaco pelo Dr. Ren.

O Dr. Ren, que estava trabalhando na Universidade de Cincinnati, voltou para a China porque o governo lhe ofereceu uma gritante soma de $ 1,6 milhão para financiar seu projeto de troca de cabeças nos ratos. Diferente de países como o Brasil que tentam a todo custo expulsar seus cérebros privilegiados, contingenciando e boicotando na cara dura o P&D, a disputa por cabeças geniais é uma guerra conflagrada entre China, Estados Unidos e Alemanha.

Dr. Ren agora está esperando para receber mais subsídios para o transplante de cabeça do macaco dentro dos próximos quatro meses. Infelizmente, colegas médicos do Dr. Ren permanecem céticos sobre o seu trabalho, e – como se faz tradicionalmente com quem avança na escuridão desconfortável do desconhecido, já o apelidaram de “Dr. Frankenstein”.

“É uma ideia ridícula!” disse o professor de ética médica Arthur Caplan sobre este trabalho. Robert Truog, diretor do Centro de Bioética da Harvard Medical School, acrescentou que não leva a ideia à sério uma vez que os transplantes de cabeça tem “implicações profundas para a identidade pessoal.”

Afirmações desse tipo sempre me levam a pensar na primeira das três leis de Clarke que diz: Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, é quase certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.

Francamente, é muito bonita essa conversinha de ética e implicações profundas para a identidade pessoal quando você não é o Stephen Hawkins, um cara genial com o cérebro Ok preso num corpo que está falindo.
Temos que lembrar também que a ciência médica SEMPRE foi essa mesma merda aí.
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Um cara inova e os outros medíocres assombrados colocam apelido e o criticam pelas costas. Foi assim quando Giovanni Aldini descobriu que era possível controlar músculos de cadáveres através de estimulação elétrica. (aliás, isso foi a base científica que permitiu a Mary Shelley escrever o romance sobre o monstro do Dr. Frankenstein) e foi chamado de bruxo e até acusado de usar magia negra por seus pares.

De acordo com Dr. Ren, se transplantes de cabeça puderem ser aperfeiçoados, os médicos poderiam um dia ajudar os pacientes cujos cérebros estão intactos mas os corpos estão desfuncionais. De fato, ele não é o único médico a acreditar no potencial do transplantes de cabeça. O cirurgião Sergio Canavero, chocou o mundo ao avisar que já se prepara para fazer o transplante da cabeça de um homem em outro corpo!

Hoje a equipe de Ren está usando uma técnica semelhante à do Dr. Canavero – eles acreditam que por meio do corte da medula espinhal com uma lâmina ultra afiada, o corte limpo terá uma melhor chance de permitir a fusão celular, permitindo o retorno dos estímulos nervosos. Talvez a mistura dessa tecnica com um implante de células tronco viabilize a regeneração celular mais rapidamente. Por enquanto ainda não houve um sucesso prolongado com as cobaias, mas eu não creio que isso seja uma impossibilidade para um tipo de procedimento tão complexo.

Canavero sugere que por volta de 2017, poderíamos estar vendo a primeira operação que colocará a cabeça de alguém no corpo de outra pessoa.

Dr. Sergio Canavero, que pertence ao Grupo de Neuromodulação avançada de Turim, na Itália, traçou como enxertar uma cabeça de um doador num corpo de outro doador. Canavero anunciou os planos na American Academy of Orthopaedic and Neurological Surgeons (AANOS) este mês. O cara é enfático:

“Se a sociedade não quer isso, eu não vou fazer. Mas se as pessoas não querem que os EUA ou a Europa façam, isso não significa que a pesquisa não vai ser feita em outro lugar. Estou tentando fazer isto da maneira certa, mas antes de ir para a lua, você quer ter a certeza que as pessoas vão segui-lo”.

Canavero acredita que dá.

De acordo com a New Scientist ele planeja resfriar a cabeça e o corpo dos doadores, para estender o tempo que suas células podem sobreviver sem oxigênio. O tecido em torno do pescoço é dissecado e os grandes vasos sanguíneos são ligados utilizando tubos minúsculos, antes que as medulas espinhais de cada pessoa sejam cortadas. A precisão deste corte é fundamental.

A cabeça do destinatário é, então, trocada para o corpo do dador e as duas extremidades da medula espinhal – que se assemelham a dois feixes de um espaguete denso são então fundidos. Para conseguir isso, Canavero pretende liberar a área com uma substância química chamada polietilenoglicol, e acompanhar com várias horas de injeções do mesmo material. Assim como a água quente faz com que o espaguete seco se cole, o polietilenoglicol incentiva a gordura nas membranas celulares a se conectar.

Em seguida, os músculos e o fornecimento de sangue serão suturados e restaurados. O corpo com a nova cabeça será mantido em coma induzido durante três ou quatro semanas, para evitar qualquer movimento. Eletrodos implantados irão fornecer estimulação elétrica regular para a medula espinhal, porque pesquisas sugerem que isso pode fortalecer novas conexões nervosas.

Quando o destinatário finalmente acordar, Canavero prevê que a pessoa será capaz de se mover e sentir o seu rosto. Ela ainda vai falar com a mesma voz que tinha no outro corpo. Ele diz que se a terapia de recondicionamento medular der certo, a fisioterapia permitirá à cobaia a andar dentro de um ano. Várias pessoas já se voluntariaram para obter um novo corpo, diz ele.

O futuro cada vez mais GUMP bate à nossa porta!

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Na verdade acho que é transplante de corpo, já que a essência do que é a pessoa se encontra no cérebro, com todas as suas memórias e experiências. PortNto, troca-se o corpo e mantém-se a cabeça, certo?

  2. Melhor parte da matéria: “Se as pessoas dos EUA ou Europa não querem, não significa que a pesquisa não será feita em outro lugar”.

    Na minha boçal opinião, se os humanos são punidos ate hoje por ter comido da arvore do conhecimento que façam uso desse conhecimento, eu me assusto com certas facetas que a ciência pode apresentar, não não julgo que posam ser erradas.

  3. É muito complexo esse transplante porque além de interligar terminações nervosas ainda tem todas as outra conexões como tubo digestivo, respiratório, veias e vasos etc. Evidentemente isso demanda muitas horas de delicadas intervenções e monitoramento constante. É realmente um desafio, porém não impossível.

  4. Se alguem conseguir fazer um transplante de cabeça, automaticamente estará descobrindo uma forma de reconstituição da medula espinhal e curando meio mundo de para e tetraplegicos, isso não seria muito mais importante?

    • Mas é esse o objetivo. As “cobaias” humanas serão pessoas, senão tetraplégicas, com sérias doenças degenerativas.

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