Feliz ano novo!

Ano passado eu e a primeira dama estávamos no pior lugar possível para se passar o Reveillon. Na Ilha Grande, em Angra. Uma tempestade do caramba, como nunca vi igual.

Me dei conta que estávamos lascados quando vi um guaiamum, um caranguejo enorme, que vive na beira de rios, buscar a segurança da nossa pousada. Era o sinal da natureza de que iria ter um revertério. Avisei a Nivea pra preparar tudo que sairíamos na primeira barca. Tão logo amanheceu, metemos o pé.

Após nossa saída, naquela noite, desabou a merda toda e morreu uma galera lá.

A estrada, já arriscada por natureza, estava perigosa como só em filme. Pedras gigantescas rolaram das ribanceiras, Uma bem maior que meu carro caiu no meio da pista. De meia em meia hora o tráfego era paralisado, deixando todo mundo com o cu na mão. Eu queria correr para sair logo de lá, mas a Nivea ficava se cagando de medo do carro derrapar, capotar, cair do abismo e explodir. Então ela ficava me pedindo para não correr.

Escapamos por pouco da morte na estrada e a noite se resumiu a ficar em casa vendo o Reveillon na Tv. Uma merda, mas pelo menos estávamos vivos.

Eu sempre tive umas babaquices de crendice. Todo mundo tem certas crendices na vida. Não sei de onde vem isso. Eu achava que quanto melhor o reveillon, melhor seria o ano. Então isso era uma pressão do caramba na minha cabeça, que ficava o tempo todo pensando que a noite da virada do ano tinha que ser perfeita, não podia chover, tinha que ser em alto astral, com as pessoas certas, no lugar certo, com tudo bonitinho. Senão qualquer coisa poderia cagar o meu ano.

É uma coisa meio sem pé nem cabeça, eu admito. Algo irresistível, tipo TOC. Mas aí aconteceu o meu primeiro reveillon-desastre da vida, que foi o anterior ao de Ilha Grande. Nesse, fui com a Nivea e os meus pais para Conservatória.

Dez e meia, saímos todos arrumados do hotel fazenda, fomos para a cidade jantar, tomar uns gorós e ver a mega queima de fogos no centro. Todo mundo empolgadaço…

PUTAQUEPARIUUUU, é o pior reveillon do planeta, mermão! Meia duzia de favelados se apertando no centro da praça ao som de um baile funk.  – Na capital da seresta!

“Até um velório em Uganda deve ser mais animado”, pensei.

Foi quando nós resolvemos pegar o carro e sair da cidade faltando pouco para meia noite, porque concluímos que a festa lá seria uma merda. Tentamos viajar até Barra do Piraí na esperança de achar uma festa legal no caminho, afinal, Barra do Piraí é uma cidade bem mais desenvolvida que Conservatória.

PORRA ABSOLUTAMENTE NENHUMA.

Pra não dizer que eu estou exagerando, eu vi UM mendigo, que cambaleava no meio de uma praça ao longe. A sensação é a MESMA que aquele policial teve quando acordou do coma em Walking Dead. Sabe como?

Eu até hoje não sei dizer para onde UMA CIDADE INTEIRA FOI. A hora chegando, o momento da virada se aproximando, minha mãe já cantarolava aquela musiquinha, meus olhos focados no ponteiro do relógio que teimava em se aproximar cada vez mais da meia noite. Eu tentava não transparecer a minha decepção e queimava por dentro me debatendo feito uma bicha contrariada. Só pensava: “Ah, não, vou estragar o meu ano todo com esta porra!”

Quando virou meia noite, eu estava entrando – nunca mais me esqueci – num lugar chamado IPIABAS.

Que cú, meu. Não dá nem pra descrever a monotonia que foi o reveillon de Ipiabas. Mas aquilo me ajudou a ver que por pior que as coisas estejam , elas sempre podem piorar. Não tinha restaurante para comer lá em Ipiabas, o que nos levou a voltar para Conservatória na esperança de achar comida num restaurante.

Mas estavam TODOS fechados. Difícil de acreditar.

Tem noção do que é uma cidade turística fechar TODOS os restaurantes na noite do Reveillon? Bem, na verdade só tinha um único restaurante aberto. Cheio de gente bêbada. E quando chegamos lá, a comida tinha acabado. A dona do caixa, já meio mamada, disse que por 15 reais por cabeça, nós poderíamos entrar e ver se ainda tinha alguma xepa para futucar e que, com sorte, talvez desse para fazer um “pratinho”.

Sem comida, todo mundo numa fome pré-histórica, fomos comer pastel na praça. Mas não tinha NEM A PORRA DO PASTEL! O cara ficou com pena e usou a massa de uma coisa chamada calzone para fazer um pastel cheio de gordura pra nós. Queimei a boca com a gordura. A bebida que tinha era cerveja, e quente.

Naquela noite, em que a queima de fogos se resumiu a apenas dois foguetes, eu deitei na cama imaginando que merda de ano eu tinha conseguido gerar. Mas ao contrário do que eu poderia supor, o ano que passamos em Ipiabas foi um dos melhores anos da nossa vida. Conquistamos muitas coisas, trocamos o corsinha velho de guerra por um carrão automático, viajamos para o exterior. Foi Ipiabas e sua festa chulé que me fez perceber que essas crendices de não comer galinha, pular 7 ondas, usar cueca nova ou comer semente de não sei o quê é tudo bobagem. O ano não se faz no primeiro dia. Se faz nos 364 dias que ainda irão rolar.

No ano que quase morri esmagado por pedras na estrada de Angra ou atolado na lama que desabou na Ilha Grande, eu e a Nivea realizamos o nosso maior sonho: Compramos o nosso Apê. Foi um ano foda, mudamos três vezes num ano só, vendemos um imóvel, compramos outro, deu merda no negócio, perdemos a compra, surgiu outro mil vezes melhor no mesmo bloco, compramos por um preço sensacional, enfrentamos todo tipo de trabalho maluco que apareceu, lancei o livro do Mundo Gump, e fui parar até no programa do Jô.

Depois de Ipiabas eu vi que esse papo de que o ano é tão bom quanto a festa de reveillon, é papo furado. Pelo menos pra mim, quanto mais merda foi a virada do ano, melhor rolou no resto.

Este ano espero que 2011 seja bem mais legal que Foi 2010.

Diretamente de Santiago no Chile, eu desejo a todos os leitores um Feliz 2011. (espero que não dê terremoto nessa joça.)

Feliz ano novo, meus amigos!

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

    • Valeu mesmo, Mollrimbaud, aqui está suuuper legal. Sol inclemente, comida maravilhosa e vinhos sensacionais. Mas já rolou uma gumpice envolvendo caganeira e uma privada que quase transbordou, hahaha.

  1. Aê Philipe! Feliz ano Novo e muitas felicidades para você e toda sua família!
    Que 2011 seja um ano repleto de realizações para vc assim como foi 2010, espero sinceramente que vc tenha sucesso e que vc continue com esse seu incrivel blog que é o Mundo Gump.

    Feliz Ano Novo Philipe, Abraços

    Lucas B.

  2. Pra mim, quanto pior o Reveillón, melhor será o Ano, tipo, 2008-2009 eu passei de branco, com toda minha família (quase toda), foi muito bom. Resultado… 2009 foi um ano terrível, morte na família por causa do câncer, eu ainda estava num colégio que eu não gosto, foi um ano péssimo. Então, dia 30 de Dezembro de 2009 minha Tia morreu. Foi um dos piores reveillons da minha vida, virei o ano de preto, fui pra rua, passei a virada fora de casa. Resultado… 2010 foi um dos melhores anos que eu tive. 2010-2011, meus Pais não estão bem no casamento, passei de preto de novo, foi um desânimo, não pude ficar na rua por causa de perseguiçao de bandidos. Espero de 2011 o mesmo ou melhor de 2010.

    • Tomara que dê certo isso e vc tenha um ótimo 2011. O meu deste ano foi “peculiar”. Não foi ruim, mas “bom” é algo bem diferente do que foi, heehe.

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