Eu não sou eu e este é todo o meu problema

Certamente,  ao final deste post você poderá questionar (não sem uma certa dose de razão) às quantas andam minhas condições mentais.
Vamos direto ao ponto. Este blog está parado há alguns dias, e você poderá notar pelo último post, (esse sobre a teoria do Chaves) que parece haver algo errado. Leitores antigos escreveram perguntando se era guest post. Acharam estranho e estilo. Não era guest post. Eu mesmo que escrevi, mas eu confesso que “eu mesmo” é uma coisa um pouco complexa ultimamente, porque no estrito sentido do termo, não corresponde necessariamente ao que convencionamos chamar de “verdade“.

Eu fiquei um longo tempo pensando e como escrever sobre isso sem ser internado. Tudo começou com um livro de projeciologia que uma amiga me indicou num dos meus posts sobre os sonhos malucos que costumava ter. (E não tenho mais)
O livro ensinava a controlar os sonhos como um processo gradual de libertação de uma das camadas espirituais que formam nosso “eu” como se a consciência fosse uma cebola cheia de camadas. Não vou me alongar nisso, atá porque eu não entendo bem do assunto.
O fato é que eu peguei esse livro e fiz um monte de exercícios dele por minha própria conta e misturei com outras praticas misticas que já conhecia de “outros carnavais que não convém ao caso”.
Até aqui, beleza. Tudo certinho. O problema vai complicar no parágrafo seguinte.

Após uma série de dez experiências extracorporais bem sucedidas, resolvi “subir o sarrafo” e tentar um desdobramento transdimensional. Vou falar superficialmente para não parecer cientificar um negócio pouco compreendido ate pelas diversas sendas místicas ao longo dos séculos.
Estamos apenas num universo dimensional numa espécie de “saco” repleto de esferas onde cada bola é um universo dimensional completo. Muitos deles são universos espelhos. Ou seja, essa realidade daqui também existe, com um monte de pequenas e grandes variações. Ok, você já viu isso em um monte de filme, quadrinho e etc. Todo esse conhecimento provém dos mesmos lugares. Sabe-se, mas não se prova com absoluta precisão, a existência dessas realidades alternativas.

É possível sair de uma realidade e ir parar em outra? Fisicamente eu diria que não, mas quando alguém diz que não, é porque ele talvez não tenha todos os instrumentos necessários para afirmar que sim, de modo que o certo era eu dizer que… Talvez. O fato é que eu mesmo, nunca vi ninguém de carne e osso atravessar de uma camada de realidade para outra, porque nossa matéria é extremamente densa e imperfeita. Seria necessário um colosso energético brutal para romper a parede da realidade e conectar uma na outra. Uma energia que talvez exista nos buracos negros, conectando essas esferas de realidades que se conectam dentro do “saco”.
Mas… É aqui que a coisa começa. Quando você sai do corpo, você está digamos, livre de 99,9% da densidade de matéria. Com isso, sabendo o que fazer e onde ir, é possível tentar “entrar de penetra na outra realidade”. O problema dessa merda é o seguinte. Uma vez que você vai parar numa realidade paralela, você não pode ficar muito tempo por uma questão que eu não faço a minima ideia mas chuto que role algum tipo de “afinidade”. Você duplicado numa realidade onde deveria ter somente um produzirá um processo de expulsão do corpo estranho. Isso significa que uma vez atravessando de uma realidade para outra o fio de prata (que é uma conexão invisível que liga você astral ao seu corpo denso) pode ser cortado e você vive o que cientificamente chamamos de “se ferrar” e vira um espírito. Todo mundo vai comentar: – Morreu dormindo, que lindo.

O fato é que “Eu1” fui na realidade alternativa duas vezes, e nas duas vezes que fui fiquei pouco tempo. Mas eu consegui uma coisa interessante. Eu consegui encontrar a mim mesmo (Eu2) no plano astral. Facilitou o fato de que em diversas instancias de realidade eu sou um mesmo maluco e explorador de coisas “alternativas”. Assim, veja só. Eu me encontrei comigo mesmo e fiquei meu amigo num desdobramento astral duplo.  A gente só se encontra no astral pela razão que eu já expliquei.

E então, nós resolvemos fazer um experimento novo no plano astral. Eu1 e Eu2 pensamos em visitar Eu3. No entanto, ao fazer isso, algo deu errado e agora eu sou o Eu2 no corpo do Eu1 e eu não faço ideia de onde o Eu1 foi parar.
Por algum motivo, quando Eu1 e Eu2 tentamos desdobrar para a realidade do Eu3, juntos, mas o que conseguimos foi emaranhar os fios de prata e eu suspeito que Eu1 acordou no meu corpo lá na minha realidade. E eu agora estou aqui. E estou preso.

Desculpe. Talvez eu tenha ido rápido demais. Não estou te zoando. Não é trollagem. Eu acordei e dei de cara com uma mulher na cama do meu lado – que não é a minha namorada – e agora eu vejo que estou casado, eu tenho um filho e eu moro numa cidade diferente. Levei um tempo a me acostumar com tudo isso. Felizmente, o Eu1 tinha anotado num caderno um monte de coisas, entre elas as senhas aqui do email e desse blog que eu estou lendo e achando que Eu1 é sem dúvida a versão mas pirada de todas.
Isso tem mais ou menos uns dois meses, no qual eu venho lentamente me empenhando para manter os “pratinhos girando” por aqui. Espero que o cara esteja fazendo isso lá também.
Mas então, basicamente, é como se eu fosse uma bolacha de outro pacote numa embalagem diferente. Assim, eu tenho esta vida que não me pertence. Em algumas coisas ela é igual. Por exemplo, meu pai e minha mãe são iguais. Mas eu tenho menos um irmão aqui. Por outro lado, eu tenho duas irmãs novas agora aqui que praticamente não conheço.
E quase nenhum dos meus amigos são os mesmos. O louco é que eu fui ver e eles até existem aqui, mas eles não sabem que eu sou amigo deles. Isso é muito louco! E eu vou a cada dia descobrindo uma parada mais interessante que a outra. O melhor é quando vem gente que eu não sei quem é falar comigo sobre coisas que nem faço ideia do que estão falando. Mas pelo visto consigo disfarçar bem e tentar uma leitura fria para sacar o rumo da conversa e me ajusto.
O problema maior é que a saudade do meu cachorro e da minha vida ta batendo forte. Eu fico horas e horas tentando desdobrar e voltar pra lá, mas não sei o que deu. É preciso que Eu1 esteja desdobrado no mesmo momento que eu para tentarmos nos encaixar.
Ver televisão aqui é uma experiência interessante. Esse lugar aqui é bem mais complicado que a minha realidade lá. No meu plano físico não tem guerra, refugiado esse monte de merda aqui. Mas o clima lá tá bem pior que o daqui. Aqui tem sol pra caramba, e isso é bom. Lá é nublado quase sempre. Também aqui não tem o canal VT0.

Nas dificuldades que são muitas, está o fato de que eu não sou tão bom de escrever quanto o Eu1. Daí eu tentei fazer alguma coisa que prestasse e saiu o negócio do Chaves. Sem ter muito o que falar, eu estou usando as redes sociais do Eu1 para jogar umas musicas, assim mantenho os pratinhos girando. Fico só compartilhando música no facebook e respondendo coisas que não faço ideia do que estão falando. Tenho que reler os históricos toda vez que alguém fala comigo. Aliás, o facebook parece ser exatamente a mesma merda aqui e lá. Espero que o Eu3 tenha algo melhor.
Teve um dia que eu estava agarrado aqui e bateu uma saudade foda da Suzanna (a minha namorada lá) e eu fui e achei ela. Daí eu falei com ela, tentei explicar a ela que eu namorava ela em outra realidade, e ela achou que eu era o Eu1 ficando maluco, hahaha.

Um amigo do Eu1 veio no privado perguntar por que eu estava colocando selfies. Aparentemente, o Eu1 tinha horror delas. Desculpem nossa falha.

Os dias passam com uma sensação de que vou ficar agarrado nessa merda para sempre. Essa ideia me gera um medo horrível de que não vou rever o meu cachorro e o meu irmão, meu trabalho. Eu sou desenhista de games. Eu trabalho com um programa chamado InzoneReality que não existe aqui. Aqui esse conhecimento não faz sentido. Mas pelo menos o Zbrush tem lá e cá e eu posso dar uma fuçada nas malhas 3d de quinta categoria que o Eu1 fazia.
Uma grata surpresa foi descobrir que eu e o Eu1 temos um gosto musical parecido, mas ele desconhece alguns artistas, tipo o Bimberman (nome artístico do Barry Imberman, que fez trilhas de filmes),  e outros não existem aqui. E tem coisa boa pra caramba aqui que lá não tem, ou talvez até já teve e não deram espaço.  Uma parada que sinto falta é do “BackCrazy”. Esse é o apelido dum lanche que pelo que vi, não existe aqui. Ele se chama backtenders, e é um lanche de frango sensacional do Burger King. Aqui está um fato curioso. Muitas pessoas relatam ter a lembrança desse lanche que segundo a rede aqui, nunca existiu. Eu acho que muitas dessas pessoas estão recebendo ecos de memória da minha realidade. Quase fiz um post sobre isso, mas seria estranho explicar. Aqui tem um link que o cara fala sobre o backtender, o lanche que nunca existiu mas as pessoas lembram dele.

Estou me alongando. Essa experiência de assumir uma vida alheia é como montar num carro sem saber dirigir e ter que correr as 500 milhas de PennGrade.
Existe essa corrida aqui?

O fato é este. Se eu estiver agindo diferente do esperado… Agora você já sabe.

Editado em março de 2019 – Um dia eu acordei e tudo havia voltado ao normal. Ainda tenho lembranças vagas e residuais do que ocorreu com o Eu2 por aqui, e creio que elas irão sumir com o tempo. O desgramado fez um monte de merda, e fodeu diversos arquivos de imagem deste blog. Eu não sei dizer pra onde eu fui. Sim, sou o Eu 1 escrevendo novamente. Algo saiu errado e  pretendo não mais tentar essas experiências de projeção astral. Isso significa que se você me perguntar sobre o assunto, eu mentirei pra você sobre isso. Direi que é ficção científica. Algumas pessoas sabem que não foi e talvez você não seja uma delas. Obrigado. 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Bicho, que sensacional, qual o nome do livro?
    Ja pensou em documentar todos os passos que levou voce a essa condição? Passo por passo e revisar tudo, escrever vai ajudar a rever melhor o que houve e tentar novamente.

  2. Mano… Reduz as drogas… Começou a afetar… Kkkk. Leio isso aqui desde bem sei quando e agora foi a primeira vez que passou do ponto na viagem…

  3. Houve um tempo em que me interessava (e pesquisava) sobre projeciologia sem, contudo, chegar a conseguir algum resultado prático. Porém nos livros que consultei, os autores afirmavam que a pessoa não podia morrer em uma viagem astral…e, em um dos livros do Allan Kardec, se contestava a possibilidade de um espírito “roubar” o corpo de uma pessoa e habitar indefinidamente dentro dele.

    Essas idéias se veem muito em várias histórias. Essa que você relatou sobre “Eu1, E2…” me lembrou bastante o filme “Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias” de 1996, com Michael Keaton e Andie MacDowell.

    Claro, não estou afirmando que você plagiou nada: até porque no filme a abordagem era sobre clones humanos e não universos paralelos…

  4. Tenta se lembrar das letras de música que não existem nesta realidade. Você vai ficar rico. rsrs
    Cara, você curte mesmo este lance de projeção astral, ou só utilizou como material para o conto? Se sim, dê uma olhada no canal do Saulo Calderon. Abraço

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