Entrevista com Aggon

Era um feriado. Não me recordo bem que dia era, talvez um 4 de julho qualquer. Eu me lembro com dificuldades ainda daquele dia.  Mas curiosamente, me lembro de forma perfeita, nos mínimos detalhes, do que ocorreu no dia anterior.
Me recordo que Bill Aldino, Frank Sanchez e eu estávamos trabalhando para uma produtora de notícias de Nova Jersey, chamada Prometheus Broadcast Inc.
Fazia cerca de seis meses que eu havia pedido as contas na revista, por razões que não me cabe detalhar aqui. Eu estava bem feliz trabalhando com eles na P.B. Inc.

Essa produtora trabalhava uma serie de projetos sempre envolvendo pessoas intrigantes e coisas curiosas, recordes, histórias sobrenaturais, e itens raros e históricos, o que era um alento para quem estava enjoado de cobrir o noticiário esportivo e as notícias políticas para revistas.

Nossa missão naquele dia era conseguir chegar numa pequena cidade de New Prague, perto de Minneapolis, onde Frida Baez, nossa produtora adjunta havia mercado uma entrevista com uma senhora de quase cem anos, que dizia conseguir falar com espíritos.

Frida era uma alemã bastante temperamental, que nunca aceitava um não como resposta. Não era a primeira missão bizarra que ela nos

passava. Todos tinham medo dela, porque ela não lidava muito bem com as frustrações da profissão.  Não raro, Frida inaugurava novos e estranhos palavrões, remixando alguns dos palavrões de seu vasto repertório de impropérios e insultos. Digamos que ela conseguiria fazer um marinheiro corar de vergonha.

Como ninguém nunca queria levar as más notícias para Frida, fazíamos tudo que estivesse ao nosso alcance — e até além — para levar uma boa história para ela.
Naquele dia, lamentavelmente eu seria a bola da vez. Custamos a conseguir atravessar a rodovia 35 Sul, porque nossa van quebrou perto de Crystal Lake em Apple Valley.

O tempo estava passando e nada de Bill e Frank conseguirem consertar o carro. Comecei a pensar seriamente na possibilidade de alugar algum carro no sul de Minneapolis e tocar de lá direto para New Prague. Bill me pediu algumas horas, porque ele dizia que conhecia bem o carro, mas a verdade é que Bill estava morrendo de medo de ter que impactar ainda mais nosso orçamento com mais um veículo. A P.B. ainda estava em estágio de negociação daquele show e ainda não tínhamos a verba necessária. Estávamos naquele momento, ainda trabalhando no piloto da serie que se tornaria depois a famosa “Beyond Mysteries”.

Eu disse a Bill e Frank que nosso tempo era escasso, mas que poderíamos tentar consertar a van. Estabelecemos um teto limite de três horas. Caso eles não dessem jeito naquele motor nas três horas seguintes, eu iria de taxi ate uma locadora de carros e largaríamos a van para trás.
Eles concordaram e enquanto os rapazes trabalhavam no motor, eu saí pela pequena cidade para encontrar um taxi que pudesse me levar até a loja da Hertz mais perto. Eu sabia que aquele carro estava nas ultimas, com o motor engasgando toda hora e o câmbio estalando a cada vinte minutos.

Estávamos numa oficina perto da 150th Street, e saí andando na direção do Sam´s Club. Nessas horas de estresse, sinto uma tremenda vontade de comer chocolate. Aproveitei para puxar conversa com uma senhora idosa que já não me lembro mais o nome. Se não me engano, era algo como Mary Angel,  ou Angel Marrie. Sei que tinha uma Maria em algum lugar e um anjo no nome dela.

Paguei meus dez dólares de chocolates diversos e essa senhora muito simpática e prestativa me deu uma dica interessante. Eu não precisaria ir muito longe para obter um aluguel de carro. Havia uma agencia bem perto do mercado. Ela anotou pra mim o endereço num papelzinho: “Enterpirse Rent a Car”, na Galaxie Ave 15136.

Eu fiz um gracejo sobre tratar o aluguel com o capitão Spock, mas acho que ela não entendeu, ou talvez minha piada tenha sido tão sofrível que ela fez a desentendida.

Ela apenas disse: “Eles vão fechar as seis. Se você não correr só vai conseguir alugar alguma coisa amanhã… E amanhã é feriado”.

Saí do mercado mastigando uma barra de chocolate com amendoim.

Eu já ia atravessar a rua esbaforido, quando meu telefone tocou subitamente. Era Frida, dizendo que iria “chutar minhas bolas” se eu demorasse mais um minuto a me juntar com os rapazes na Carson´s Garage porque a van já estava pronta e eles estavam me esperando.

Pedi desculpas para dona Frida e corri pela calçada com a maior velocidade que eu consegui arrancar das minhas pernas finas. Cheguei lá e encontrei Bill tomando uma latinha de Coca sobre o capô da nossa van.

Frank já havia acertado tudo com os mecânicos e assim seguimos viagem.  Conforme Frank acelerava a van pelas estradas vicinais de Minnesota, eles riam de mim sobre Frida me chutar as bolas.
“Você tá na mira da chucrute, cara!”, disse Frank Sanchez, enquanto apertava o volante,  sorrindo maliciosamente.
“E essa lata velha? Será que chega no lugar?”
Ele nada disse, apenas balançou a cabeça meio de lado, como quem diz, “eu sei lá?”

Descemos pela 35W até cruzar com a estrada 19. Dali surgiram as placas para New Prague.

“Que nominho desgraçado, hein?” Frank disse, olhando para as placas. O sol já estava se pondo, e não ia ter nenhuma chance de gravarmos com a “titia” na luz do dia.
Apesar do nome sugerir um lugar macabro e decrépito, New Prague era bonita. A cidade estava com placas para o festival de São Wenceslau, que ocorreria no mês seguinte por todos os lados.

Quando estávamos mais ou menos no meio da Main Steet, estava ficando escuro. Frank sugeriu que parássemos para comer uma pizza no Pizza Ranch. Mas eu estava preocupado. Mais uma ligação da Frida e eu estaria em sério risco de ser REALMENTE chutado nas bolas. Propus aos rapazes que fossemos direto até a casa da “Titia”, onde deixaríamos tudo pré-ensaiado, tudo assinado, a parte burocrática toda feita. Ela certamente com cem anos nas costas, não devia ter planos para o quatro de Julho. Nós ficaríamos num hotel e gravaríamos pela manhã.

“Não contem comigo se essa velha resolver falar com espíritos de noite! Tudo tem limite…” Disse Frank, sem tirar os olhos da rua.  De fato, concordamos. Nós normalmente não gravávamos entrevistas de noite por uma série de motivos e o medo era o último deles.

Filmar à noite costuma comprometer a qualidade geral do material. Ocorre que essas entrevistas para documentários não raro levam seis horas de captações. Assim, se começarmos cedo, é normal que a entrevista adentre a madrugada. As pessoas se irritam, ficam cansadas, querem dormir. O aparato de iluminação para filmar a noite é maior, envolve refletores dentro das casas, envolve incomodar vizinhos. A qualidade das tomadas não raro granula demais. Assim, nós normalmente fazemos uma série de externas no início da noite e gravamos as entrevistas durante o dia. Na edição, tudo e misturado para parecer que estamos nos ambientes durante a noite.

Seguimos para o endereço que a Frida havia passado e logo encontramos a rua St. Paul, com um monte de carros pretos estacionados dos dois lados da via. Pela quantidade de carros e pessoas usando ternos, Frank gemeu algo que soou como “Não estou gostando disso!”

Assim que descemos e nos aproximamos, constatamos o pior: Logo, um tal de Nelson, o neto dela, veio falar com a gente. Nossa entrevistada que passou cem anos na Terra, havia acabado de partir para o “outro mundo”.

Nos entreolhamos sem saber o que fazer.  Demos nossas condolências aos familiares e voltamos para a van em silêncio. Era um misto de frustração e alívio. Não queríamos ter de trabalhar no quatro de julho, mas a questão era: Quem vai avisar pra chucrute?
Fomos direto para a Main Street. A missão agora era achar um lugar para pernoitar. E então, pegar alguma coragem para ser esculhambado aos gritos, com toda sorte de adjetivos humilhantes possíveis.

Logo, conseguimos três quartos bons no Quality Inn. Era um prédio novo de tijolinhos. O quarto era amplo e muito bom. O hotel que tinha até piscina, nos recebeu com uma aconchegante lareira acesa no hall de entrada.

Nos instalamos e  saímos para dar uma volta. A cidade já começava os preparativos para os festejos do dia seguinte, com desfile e fogos, certamente.
Atravessamos a rua e fomos para um pub das imediações.
Encontramos o pub sem precisar andar muito. Ele se chamava apropriadamente “The corner bar.” Era também de tijolinhos por fora, e apertado e escuro por dentro, embora aconchegante e com preços bons. Estava tocando uma boa seleção de musicas dos anos 80, o que me fez sentir em casa. Abrimos os trabalhos com um shot de tequila no balcão para pegar coragem.

Depois, escolhemos uma mesa perto da janela. E iluminado pelos neons vermelhos, fizemos uma ligação para Frida e comunicamos o falecimento da entrevistada.

Nossa produtora berrou um palavrão tão alto no telefone, que um senhor de idade que tomava uma cerveja na mesa ao lado ouviu e começou a rir.
Frida estava dando um senhor ataque de pelanca, nos culpando por demorar muito para dirigir de Nova Jersey até Minnesota. Eu olhei para o homem da mesa ao lado e ele apontou a aliança, como quem diz: “É a tua patroa?”

Neguei com o dedo e movi os lábios “Boss” para ele. O coroa entendeu, fez uma careta que esticou os dois lados da boca e tomou um gole de cerveja.

Depois do esculacho fenomenal, Frida disse que tínhamos dois dias para arrumar uma boa história naquela cidade e voltar: “Ache alguma coisa, vá no cemitério, vá atrás do mais maluco da cidade, mas se voltar de mãos vazias o ovo de vocês vai parar na garganta… Um do outro!”
Então ela bateu o telefone na nossa cara.  Foi justo quando o rapaz nos trouxe as canecas de cerveja.

Sorrimos e brindamos à patroa chucrute.

“Cheers!”
“Bem, vamos sair para jantar?”, perguntou Frank.
“Acho que eles devem servir alguma coisa aqui”, eu disse, meio desconfiado.
Meus dois amigos, o motorista e o cameraman, estavam certos de que o bar da esquina de Nova Praga não era o melhor lugar para comer e pareciam irredutíveis de pegar o carro e dirigir por toda avenida principal até a entrada da cidade para comer a tal pizza cheia de alho que eles adoram em Minnesota. Eu não estava nem um pouco afim de voltar para aquela van dos infernos, de modo que disse a eles que eu ficaria ali pelo bar mesmo.

Eles se levantaram, jogaram uns trocados sobre a mesa e foram procurar o Pizza Ranch.
“Bem, agora somos só nós dois”, eu disse para minha caneca de cerveja.

Tomei umas seis cervejas ali, e já estava um pouco tonto quando o velho voltou de algum lugar, acho que do banheiro e se sentou na minha mesa.
“Como está, filho?”
Olá, senhor…

“Pode me chamar de Pat!” – Ele disse sorrindo.
“Muito prazer, Pat. Sou José Feliciano”, eu disse, estendendo a mão.

O velho me apertou a mão com enorme intensidade e confiança.  Aproveitei a deixa para puxar conversa.

“Você é da cidade, Pat?”
“Ah, sim, nasci aqui.” – ele respondeu entre goles na cerveja.  Pat parecia ter seus setenta e tantos anos, o que talvez pudesse trazer alguma dica para meu trabalho.
Percebi que Pat estava curioso sobre mim e meus amigos, caras estranhas naquela cidade pequena. Expliquei que éramos de uma produtora de filmes jornalísticos e tínhamos vindo entrevistar uma mulher que morreu.
“A senhora Hill…” , ele disse.

“Ela mesma.” Retruquei. “A que fala com os mortos”.
Pat baixou os olhos, como que procurando as palavras certas.

“O povo daqui fala muita asneira!”

“Coisa de cidade pequena. Sabe, viemos de Nova Jersey só pra falar com ela e agora…”
“…Pelo menos a cerveja é boa, filho.” – Pat tentou me consolar.
Aproveitei o assunto para sondá-lo, se ele sabia algum mistério da cidade, afinal a chucrute já tinha dado a missão e eu não ia voltar de mãos vazias, nem que tivesse que inventar alguma história.

Para minha surpresa, Pat era uma verdadeira enciclopédia de bizarrices. Ele sabia tanta história de fantasmas e aparições, e coisas estranhas naquela cidade minúscula, que ele poderia até virar nosso produtor.
“Bem, conheço alguma coisa… Sabe como é… A vida toda aqui, a gente escuta algumas histórias. Anota aí!”
Eu imediatamente saquei o bloco de anotações e comecei a tomar notas.
“Vocês podem começar visitando a mansão do dono da cervejaria Hamm. Dizem que abriga um espírito determinado a proteger os proprietários do perigo. O fantasma acorda os inquilinos durante a noite para avisá-los de desastres iminentes, e acredita-se que seja um ex-residente que remonta à época em que a casa foi construída para o dono da cervejaria. Depois vocês podem ir na Mounds Teatre.  É um teatro de 1922, onde as pessoas relataram ter sido agarradas fisicamente enquanto trabalhavam tarde da noite. Um fantasma que grita obscenidades chamado ‘Red’ às vezes até joga objetos nas mulheres… Mas cuidado: as histórias dizem que alguns investigadores não saíram do porão rápido o suficiente e acabaram com marcas de garras muito reais nas costas.”

“Wow! Caramba, talvez seja bem o que precisamos!” – Eu disse empolgado, mas Pat continuou:

“Vai anotando…  Outro lugar para irem é no cemitério Oakland. Tem testemunhas que viram a fantasma que supostamente assombra este cemitério e eles deram uma descrição completa de sua aparição. Ela tem vinte e poucos anos, cabelos castanhos na altura dos ombros e olhos azuis, e usa um vestido de renda da virada do século. E também vocês podem ir aos quatro edifícios assombrados no St. Olaf College. O Hilleboe Hall, onde crianças cantando e tocando piano já foram ouvidas; o Kelsey Theatre, onde a falecida Srta. Kelsey foi vista tocando piano no palco e o Melby Hall, onde foram vistas as aparições de um homem e uma mulher em roupas vitorianas. Tem também o Thorson Hall, onde o fantasmagórico Red Hat Boy reside com seu cachorro fantasma. Acredita-se que Red Hat Boy seja um ex-aluno que já morou no dormitório.”

“Um fantasma cachorro? Boa pedida, Pat. ”

Pat se levantou e disse que ia fazer xixi: “Na minha idade, a gente mija à prestação”.

Enquanto o meu novo amigo ia ao banheiro, levantei os olhos em busca do garçom para pedir mais uma cerveja, quando então meus olhos se cruzaram com os olhos fundos  que pareciam enfiados num rosto magro e feio, com marcas do tempo. Esse homem me olhava fixamente, de um jeito estranho.

Baixei os olhos e senti uma mão tocar meu ombro. Ali estava Pat me estendendo uma nota de vinte. Eu recusei e disse que a bebida dele era por minha conta. Pat agradeceu, olhou no relógio e ajustando os óculos disse que já estava tarde e ele precisava ir embora. Nos despedimos e voltei a ficar sozinho com meu canecão de cerveja gelada.

O homem estranho saiu do balcão e atravessou o pub – o que se fazia com seis ou sete passos. Ele sentou-se na cadeira e disparou uma frase que achei bem arrogante:

“Não acredite em nada dessas baboseiras de fantasmas. Isso é bullshit!”

A regra número um dos jornalistas investigativos da América é “nunca arrume confusão em cidade pequena”. E a regra numero dois é: “Nunca desobedeça a regra um.”

Ninguém quer terminar igual ao final de Easy Rider, na medida em que isso é um bom conselho para os focas.

Olhei nos olhos dele, e achei um pouco esbugalhados, mas ninguém tem culpa de ser feio.

“Eu não tenho tanta certeza. Muito prazer, sou José Feliciano, jornalista de assuntos estranhos!” -Estendi a mão.
Quando aquele homem estranho apertou minha mão, senti sua magreza e a tez gelada de sua mão lembrava a mão de um morto. Ele também se vestia de modo estranho, com um pesado casacão de lã preta, sobre uma roupa preta antiquada e sóbria que não parecia combinar com o ambiente informal daquele pub.

“Fique à vontade”. Eu disse.  Ele ainda não havia soltado minha mão e respondeu ” Sou “Igor Sklyar, o prazer é todo meu.”
“Fique à vontade. Bebe alguma coisa? ”
“Já estou. E o senhor, como está?” – Ele devolveu a cortesia, sem me olhar nos olhos. Olhou para o rapaz e sinalizou.
Sklyar parecia ter uns cinquenta anos.
“Eu não estou com sorte – respondi entre goles na cerveja – viajei de Nova Jersey até aqui para entrevistar uma velhinha e ela morreu quando chegamos…”
“Ah, a senhora Hill, aquela maldita.” – Ele disse.
O garçom se aproximou e vi Sklyar sussurrar alguma coisa para o jovem. Ele saiu apressado.
“Percebo que o senhor não se dava com ela…”
“Ela era uma necromante. Uma das últimas.”
“Necromante? Interessante isso. Não escuto esse termo há muito tempo.” – Eu já estava preparando um roteiro sobre isso em minha cabeça.

Igor estendeu a mão para pegar a taça de vinho que o garçom estendeu a ele. Era uma taça básica, mas a garrafa escura não tinha rótulo. Ele mesmo serviu o vinho na taça. Depois cheirou, se recostou na cadeira de um jeito espalhafatoso e um tanto pedante. Me olhou de cima, e abriu um sorriso, que era um sorriso intrigante por si só. Seus dentes eram apodrecidos e escuros. Ficamos assim, em silencio nos observando. Eu tentava memorizar cada elemento daquele estranho homem, já que planejava contar para Frank e  Bill tudo que eles tinham trocado por uma pizza com excesso de alho.

“Se o senhor gosta de assuntos estranhos… Já passou por uma experiência incomum?”
“Podemos dizer que sim. Conversei com gente que jura que foi parar num disco voador, gente que morreu e acordou no necrotério, crianças que tem amigos imaginários que deixam mensagens escritas pela casa quando a família está viajando…”
Eu tentava impressionar puxando meus melhores casos, mas o tal Igor Sklyar não parecia nem um pouco impressionado. Em verdade, soava aborrecido e repleto de enfado sobre meus achados nas sendas do paranormal…

“…E é isso.”, eu finalizei logo o assunto, porque percebi que estava incomodando o sujeito, que já era desagradável o suficiente para o meu gosto.
Quando ele finalmente falou alguma coisa, disse muito lentamente e pausadamente:

“O senhor não esteve frente a frente com um ser sobrenatural?”
“Bem… Não. Talvez sim se contar a minha produtora.”

Igor não riu. Tomou um gole de vinho e me fez aquela pergunta que eu parecia estar antecipando: “Gostaria?”
“O que? Hoje?”

“Agora.”
“Bem, não sei… Eu…”
“Não estou falando do seu programa estúpido para alienar as massas, Feliciano. Me refiro a oportunidade única de encontrar uma criatura que não pertence a este mundo, mas que está aqui. Ela mora na cidade, e eu a conheço bem.”

Agora foi minha vez de recostar na cadeira.

“Bem, podemos tratar disse daqui a uns minutos? Preciso… bem, você sabe.” – Eu disse, apontando o banheiro.

“Fique à vontade”, ele disse, servindo mais vinho na taça.

Levantei-me e fui até o banheiro. De lá peguei o celular e tratei de ligar para Frank e Bill, mas calculei que já estivessem emborcados nas respectivas camas, dormindo cheios de pizza na barriga.

Me olhei no espelho do pub. Arrumei meu cabelo e realmente aliviei minha bexiga.

Enquanto urinava, eu fiquei pensando naquela proposta estranha. Talvez fosse só um caipira esquisitão tentando me assustar. Normalmente, nesses casos, devemos agradecer, marcar algum dia e dar no pé com toda cordialidade.

Lavei as mãos e voltei para a mesa. Ele estava lá, os olhos vazios e hipnóticos apontados para mim. Era um olhar de maluco. Talvez ali estivesse um protótipo de Charles Manson de Minnesota. Um “wannabe psycho killer”…

“Você não deveria recusar, sendo que é um convite que poucas pessoas já receberam.” – Ele disse.
E eu me intriguei: “como assim ele sabia que eu estava disposto a recusar?”

“Bem… É que as horas já vão longe. Amanhã preciso sair com a equipe e…”
“Essa é a oportunidade de uma vida! Você poderá entrevistar Aggon.”
“Aggon?”
“Sim!”
Esse é o nome dele?
“Aqui na Terra, é.”

Traído pela minha imaginação, a imagem de um velho gordo sentado num sofá puído com capa preta e usando uma mascara de cavalo veio à minha mente.

Igor Skylar tomou o ultimo gole de vinho. E começou a rir. Eu não sabia do que ele estava rindo, quando então em toquei que ele sabia o que eu tinha pensado. Ele sabia o tempo todo. Ele nada disse, mas assentiu com a cabeça quando eu pensei naquilo.
“Ele não é assim.” – O homem me disse.
“E como ele é?”
Igor abriu o casaco e puxou uma foto. Ele estendeu a foto para mim e ao pegar, ali estava uma criatura absolutamente esquisita, com uma enorme barba branca e chifres. Era muito pálido e com uma aparência radicalmente esquisita. Devia ter uns três metros de altura, mas estava sentado, num tipo de sótão ou porão.
“Você está dizendo que…. Isso aqui… Existe?”
“Se duvida, eu levo você lá. Mas precisa decidir logo. Não ando sob a luz do sol.”
Ah pronto… Agora eu me sentia diante de um legítimo vampiro.  Abri a carteira peguei algumas notas e paguei a conta.

Durante todo este tempo, o senhor Skylar estava com os olhos fixos em mim.
“Bem… Seja o que Deus quiser.” – Falei.
Igor abriu o sorriso e apontou a saída. “Por aqui”.
Eu o segui pelas ruas desertas da pequena cidade. Já fazia um belo frio. Meu novo “amigo” andava a passos apressados na minha frente. Na First Ave havia um carro velho, um Buick preto estacionado. Entramos no carro e ele fedia a incenso.
Igor ligou o carro e seguimos em sentido sul. Depois de alguns minutos ao volante, voltamos para a estrada. O homem estranho encostou na beira da estrada deserta.  Ali eu temi pela minha vida.
“Relaxa, cara. Só preciso urinar!” – Ele disse, saindo do carro.

Me lembrei que ele conseguia saber o que eu estava pensando e me senti envergonhado.
O monte de cervejas que eu tinha tomado já estavam fazendo efeito. Eu estava meio bêbado, e não pensava muito bem. Levantei-me da poltrona do carro e fui lá na beira da estrada fazer xixi.
Quando terminamos, voltamos ao carro, então, para minha surpresa, vi o homem fechar os olhos, estender a mão para o nada.
Fiquei ali, na porta do carro em silencio. Talvez estivesse, sei lá… Rezando.
E aí uma coisa escura veio voando do campo ao lado do carro. Era grande e escuro e pousou bem na palma da mão dele. Era um corvo preto.
Eu fiquei estático vendo aquilo. O homem entrou no carro com a ave na mão.
Ele me estendeu a ave quando sentei. Estendi o braço com medo daquele bicho me atacar. Não me dava bem com corvos desde que vi “Os pássaros”, do Hitchcock.
Mas para meu espanto, o corvo parecia quase em transe e se equilibrou calmamente em meu braço.
Chegamos finalmente, ao largo de uma grande construção que lembrava um castelo. Tinha torres cônicas e tudo. No escuro, iluminado apenas por refletores de vapor de sódio, ele ganhava ares de castelo mal assombrado. O Carro de Igor deu a volta no prédio e chegamos num acesso lateral. Ele largou o carro na beira da calçada e fui até ele, junto à porta. Eu saí do carro com aquele bicho no meu braço e não vi como ele fez para abrir a porta. Talvez tivesse uma chave.
Chegamos num salão com piso de mármore. Um grande salão retangular com colunas. Vi placas de exposições e peças de teatro que certamente aconteciam lá. Era um complexo grande e nossos passos ecoavam lá dentro. Ele se chamava Landmark Center.
Eu segui o homem até as escadas, ainda segurando a ave. Em vez de subir, ele desceu. Desceu por umas escadas em curva até o que parecia ser um piso subterrâneo.  Ali havia uma porta que ais lembrava uma porta de quartinho de limpeza. Ele abriu com uma chave antiga que tirou do bolso. Essa porta deu lugar a um estreito corredor. Era comprido, escuro, fedia a mofo. Era tão apertado que nós dois andávamos quase de lado, para não raspar os ombros nas pedras na parede.
Então, chegamos numa sala redonda toda de mármore, onde havia uma grande porta de ferro bem diante de mim. Um belíssimo candelabro de cristal pendia do teto iluminando a sala circular. A sensação era de um tipo de mausoléu secreto sob o edifício.
Ele foi até a porta e bateu três vezes. Um barulhão ecoou na sala e assustou o pássaro, que começou a voar em círculos pela sala.
“Psiu!” – Igor Sklyar chamou a atenção do corvo e para meu espanto, a ave desceu nas mãos dele como havia feito na beira da estrada.

Ouvi um estalo e depois outro e então, a porta finalmente se abriu, emanando um rugido modorrento. Entramos numa pequena câmara de pedra.

Ali estava aquela criatura. Eu quase desmaiei ao dar de cara com aquilo. Não era gente, não era boneco, nem efeito especial. Era simplesmente um ser disforme, gigante, sentado placidamente.  Os olhos vermelhos apontados pra nós. O ambiente era iluminado por luzes de dezenas de velas.  Ele tinha uma cor pálida, quase branca como um ser das cavernas. Talvez fosse albino.

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Ele me olhou e senti que estava me sondado por dentro. Me senti quase que violado por aquilo.
Igor falou com o ser algumas palavras no que eu julgo ser algum tipo de língua estranha, algo parecido com turco. Talvez uma língua já extinta.

Ele então estendeu o braço com a ave. O enorme ser estendeu seu braço e senti um odor fétido que lembrava o cheiro de lodo, de água suja emanar dele. Aquilo agarrou o corvo com sua enorme mão com garras curvadas. E enfiou na boca. Ele mastigou o corvo com penas e tudo com grande satisfação. Depois de engolir, soltou um arfar de grande alívio.
“Ahhhhhhh….”

Fiquei ali em silêncio.  Temia ser o próximo do cardápio daquele bicho.

Sentia que não devia falar a menos que ele falasse comigo. Eu evitava pensar, já que se o homem feio lia minha mente, que dirá aquela criatura barbuda! A barba era branquíssima e tão comprida que chegava quase ao chão.

Igor me apresentou, educadamente.
“Este é o jornalista José Feliciano. José, este é  Aggon, o antediluviano.”

“José…” O monstro – vou chamar de monstro, por falta de uma palavra mais clara para descrever o que estava ali diante de mim – Chamou meu nome com sua voz grossa e assustadora.

Olhei ao redor da sala e vi alguns objetos que pareciam de ouro. Aggon não se sentava em um trono. Ele estava sentado num tipo de banquinho de pedra, bem rudimentar. Ao lado dele tinha uma esfera de pedra flutuando sobre uma outra rocha. Tudo era tão estranho que me peguei pensando se não estava tendo uma alucinação.

“É um… Prazer” – Eu disse. Um tanto sem convicção.
Aggon não reagiu. Olhou para Igor, que parecia meio duro, meio congelado.
“Então você é o homem dos mistérios… ” – Aggon falou. Ele parecia menos solene e mais calmo agora. Talvez eu estivesse me acostumando ao choque da figura dele.
“Bem… Pois é. Trabalho procurando coisas estranhas.”
“Eu não sei se sou estranho o suficiente para você. – Ele riu.”
Só então eu reconheci a voz e o jeito. Era Pat.
“Pat?”
Aggon riu. Olhei para meu lado e onde antes estava Igor, agora estava o velho Pat. Igualmente paralisado.
“Era você? Digo… O senhor?”
“Perspicaz.”
Percebi que tudo havia me conduzido a ele. Ele me queria ali.

“Por que eu?”
“É chato ficar aqui sem ninguém para conversar. De vez em quando eu faço pessoas e vivo a vida delas lá fora, para me distrair.”
“Ah…” Eu disse, espantado.
“E aí? Não quer perguntar nada? Para um jornalista você parece muito tímido…”
“Eu-Eu estou tão chocado… Não sei se saberia me concentrar para fazer alguma pergunta que valha à pena. ” — Gaguejei.
“Que tal essa: Como você veio parar aqui?”
“É uma das boas.” – Assenti com a cabeça.
“Eu estou aqui desde o princípio do tempo. Eu tinha cinco irmãos. Antes dos homens aparecerem na Terra, nós andávamos por aqui.  Eu fui trazido de muito, muito longe, de um lugar que você nunca entenderia. Eu e meus irmãos viemos para esse mundo. Nos espalhamos pela Terra quando ela era ainda muito diferente.”
“E onde eles estão?”
“Eu não sei. Eu sabia que um deles, morava nua caverna, mas nunca mais soube dele. Talvez estejam por aí em algum lugar…” – Ele disse, coçando as costas.
“Mas com o senhor veio parar aqui em baixo?”
“Eu fiz essa nova casa quando me cansei de morar na floresta. Lá chovia, e eu não gosto da chuva. Eu controlei os homens e eles fizeram essa construção. E eu ordenei que fizessem esta casa aqui em baixo para mim.”
“…Eu… Bem, eu vi que o senhor comeu esse corvo e…”
“Eu não me canso deles. Deliciosos. Talvez a melhor carne viva na Terra.”
“Seria sensacional se eu pudesse entrevistar o senhor para o nosso programa.”
“Isso não será possível. Poucas são as pessoas do seu tipo que aguentam me ver.  Ninguém acreditaria. E se acreditassem, fariam fila para vir me atacar, porque vocês são tão patéticos e imperfeitos…”
“E o que o senhor faz? Tipo, fica aqui e mais o que?”
“Às vezes eu durmo.”
“Dorme?”
“Eu durmo às vezes por quinhentos, mil anos. Na última vez que eu dormi todas as pessoas andavam de cavalo. E quando eu acordei vocês já sabem até voar. É divertido.  Por sorte foi só um cochilo.”
“O senhor parece ser um imortal. É imortal? ”
“Eu não sou imortal. Eu posso morrer igual qualquer ser existente. Mas é claro que minha constituição me faz viver mais que vocês, que são muito efêmeros e frágeis. ”
“E o senhor tem ou teve uma mulher? Uma companheira?”
“Eu não tenho. Não sou masculino nem feminino. Eu sou um Êlluk.”
“Elluck?”
“Êlluk. Nós somos algo… Diferente, digamos assim.”
“Mas o senhor tem poderes, não é?”
“Sim. Eu posso afetar o que você chama de realidade.”
“Eu queria ver a cara dos meus amigos se vissem nós dois aqui, conversando.”
“Eles iam sair gritando com medo. Para falar a verdade, eu vi o medo no seu coração quando você entrou. Uma vez apareci para um homem e ele morreu. O coração parou.” Ele disse quase gargalhando.

“Oh meu Deus! ”
“Eu o trouxe de volta, mas ele tornava a morrer sempre que me via, então, eu mandei que o levassem aquele pobre coitado embora.”
“Não deve ser fácil fazer amigos”.
“Bem, eu costumo usar o Pat e eventualmente o Igor. Mas as pessoas normalmente preferem o Pat.”
“Ele é mais simpático. ” – Eu ri e emendei “Mas então, qual seu propósito em me trazer aqui?”

A criatura pareceu contemplar o vazio com seus olhos vermelhos. “Não sei. Apenas sou Aggon, um viajante de dimensões antigas, um espectador do tempo, se preferir. Apenas estou aqui. Não me pergunto o motivo. Acho que talvez não tenha um motivo. ”
“Muitas pessoas pensariam que você é um demônio”.
“Talvez eu seja.”
“É?”

“Talvez. Nem eu sei. Apenas penso que sou um viajante de dimensões antigas, um espectador do tempo. Não preciso mais que isso.”

“Por que você anda pela Terra desde tempos imemoriais?”

Aggon suspirou e olhou ao redor como se fosse possível achar frase perfeita. “O tédio, José, o tédio. Depois de eons de existência, o mundo se torna uma rotina monótona. Eu observei civilizações surgirem e caírem, conheci reis e plebeus, vi o esplendor e a decadência se repetirem incessantemente. O ser humano muda tão pouco…”

“Mas se você pode alterar a realidade, isso deve ar alguma diversão. Certo? Como você lida com essa habilidade?”

“Sim, tenho o poder de moldar a realidade à minha vontade. No entanto, a moderação é essencial para não perturbar o equilíbrio do universo. Por isso, prefiro a reclusão e a contemplação.”

“Sei que vai parecer uma pergunta clichê, mas eu não posso não fazer: O que você aprendeu sobre a humanidade durante todos esses anos?”

Aggon sorriu com um brilho nos olhos.  “Ah, a humanidade é uma criação extraordinária. Vocês são capazes de amor e compaixão, mas também de destruição e egoísmo. Vocês são um paradoxo ambulante, uma fonte inesgotável de surpresas.”

“Como você lida com a solidão de ser tão diferente de todos ao seu redor?”

Aggon e antes sorria, adquiriu um olhar melancólico e disse: “A solidão é uma companheira constante, mas é ela que me permite contemplar o universo de uma perspectiva única. Às vezes, encontro pessoas como você, curiosas e dispostas a conversar, o que me traz um breve alívio.”

Aquela resposta me despertou a curiosidade. “Quem foi a última pessoa com quem conversou, Aagon?”
“Anos atrás, eu fiz um amigo. Ele morava numa grande casa, no lado leste de Greenbrier – na época, eles a chamavam de Cable Street.

Meu amigo se chamava William, e era ligado à extensa família Hamm, que decidiu permanecer perto da empresa em vez de se mudar para áreas de maior prestígio na cidade.

Em 15 de junho de 1933, William era o  presidente da cervejaria. Ele voltava para casa para almoçar por volta das 12h45. Ele foi agarrado pelo que os jornais descreveram como “quatro figuras sombrias” e colocado em um carro que estava parado na esquina da Minnehaha com a Greenbrier”.

“Era você?” – Indaguei curioso.
Aggon sorriu e negou com a cabeça, movendo o dedo com a garrar encurvada no ar em forma negativa.

“Ele foi sequestrado pela infame gangue Barker-Karpis, levado para um esconderijo em Illinois. Lá os bandidos pediram resgate. Uma grande quantia em dinheiro foi paga e William foi devolvido, ileso, mas abalado pela experiência. Tempos depois eu o trouxe aqui usando Igor Skylar. Ele também se horrorizou no início, mas nos tornamos bons amigos depois. Às vezes, encontro almas curiosas como a sua, que me fazem lembrar da beleza efêmera da existência. Mas, no fim das contas, minha ligação é com o cosmos, com os mistérios do universo.”

Olhei para aquela figura estranha com respeito. De uma forma que não sei explicar, agradeci e sabia que nosso tempo juntos naquela câmara estava chegando ao fim.

” É uma honra conversar com você, Aggon. Suas palavras são profundas e inspiradoras.”

Aggon fez um um aceno de cabeça. “Agradeço pela conversa. Lembre-se de que, apesar do tédio, a busca pelo conhecimento e pela verdade é uma jornada digna.”
O enorme ser então me estendeu a mão. Era uma mão enorme, três vezes maior que a minha, e o aperto dele era tão forte quanto o e Pat no Pub.

“Quem sabe o que o futuro nos reserva?” ele perguntou.

Acordei num pulo. Eu estava deitado em minha cama, repleto de suor. Não fazia ideia de como tinha chegado no quarto de hotel. A voz poderosa e gutural de Aggon continuou por algum tempo na minha cabeça.
No dia seguinte, optei por não dizer nada aos meus amigos, e tomei o café com uma perspectiva mais profunda sobre a natureza da existência e os infindáveis mistérios que permeiam o universo. Teria sido um sonho? Uma alucinação causada pelo álcool?
Nunca descobri ao certo.

Se foi real, Aggon, por sua vez, continua sua jornada solitária, observando silenciosamente o mundo em constante evolução, e comendo um corvo ou outro, de vez em quando.

 

 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Profundo, se tem um tipo de personagem que gosto, são os amortais. Eles têm uma melancolia específica de quem já viveu demais e sabe que ainda vai ficar por aí durante muito mais tempo do que o que já viveu.

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