Embusteiros e usurpadores

Hoje pela manhã, ao dar uma olhada nas edes sociais, vi que meu editor havia me mandado um link para uma história tão confusa que ao tentar ler em inglês, eu achei que era um analfabeto completo na língua da Rainha. Eu não tinha entendido nada. A história simplesmente não parecia fazer o menor sentido. Mas depois, pesquisando um pouco, eu finalmente entendi. Não era eu que era ignorante no inglês, era a história que REALMENTE parecia ser sem pé nem cabeça. Prepare-se para ler a história mais estranha de 2014 (até agora pelo menos):

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Britânica descobre que namorado e ex eram a mesma pessoa: a amiga dela

A enganada
A enganada

Quando Jessica Sayers terminou com o namorado Luke, depois que ele tentou apalpá-la, logo se apaixonou pelo tímido Connor. Ela só não sabia que Luke e Connor eram a mesma pessoa, Gemma Barker – uma amiga dela.

Gemma foi presa há dois dias, condenada a dois anos e meio, por fraude e violência sexual. Ela vivia seis identidades diferentes, além da original. Nesta quarta-feira, Jessica, da cidade de Weybridge, na Inglaterra, resolveu falar sobre o relacionamento com a impostora, que era amiga dela.

– Tudo em Luke e Connor era diferente. Era como se eles fossem pessoas diferentes até no beijo – contou a jovem de 18 anos, em entrevista ao jornal “The Sun” – Ninguém sabe o que é descobrir que a pessoa que você ama e quer passar o resto da sua vida não é real.

A inglesa disse que Connor e Luke se vestiam e até falavam de maneiras distintas. Ela sequer desconfiou que os dois eram a mesma pessoa, muito menos que eram Gemma. Jessica só descobriu a farsa quando Connor adormeceu ao lado dela, depois de apalpá-la e beijá-la diversas vezes na cama.

Jessica desconfiou que quem estava dormindo ali era na verdade Aaron – outro personagem de Gemma que dizia ser irmão gêmeo de Connor. A jovem ficou enojada por ter dormido com o suposto irmão do namorado e chegou a tentar o suicídio.

A 171
A 171

Gemma estava caracterizada de Aaron quando foi presa. A polícia só teve certeza de que se tratava de uma garota quando revistaram Gemma, já na delegacia. E só depois da prisão Jessica descobriu a mentira que estava vivendo.

– Eu sei que as pessoas ficam se perguntando como eu não percebi que era ela. Mas Gemma foi muito inteligente, e eu ingênua – desabafou Jessica – Ela queria ser atriz e deveria ter levado o Oscar por isso – ironizou.

Jessica cresceu com Gemma. As duas estudavam na mesma escola, em turmas diferentes. Jessica estudava com com uma outra vítima de Gemma, que não pode ser identificada por ser menor de idade. Além de Connor, Aaron e Luke, Gemma criou outros três personagens. Ela fez perfis falsos em redes sociais e a partir deles enviava mensagens para as vítimas. fonte

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Uma história assim causa espanto porque ela revela a colisão de dois mundos: Um esperto e um trouxa.
Quando um esperto e um trouxa se aproximam, tudo pode acontecer. Você pode pensar que este é daquele tipo de caso isolado, que não acontece nunca, tão inverossímil que só pode ter saído da mente de um jornalista sem assunto para escrever, mas a verdade é que pessoas assim existem.
A maioria dos embusteiros se passam por outras pessoas afim de obter vantagens financeiras com seus ardis. No Brasil convencionou-se popularmente de chamar esses caras de um-sete-um em referência ao código penal, onde o artigo 171 descreve a atividade de estelionato.

É normal – até pela necessidade da “profissão” – que um estelionatário mude de identidade de tempos em tempos. Se ele não faz isso, é pego com mais facilidade. Geralmente, isso explica que um estelionatario costuma ter oito, dez identidades diferentes com as quais aplica seus golpes.
Mas uma coisa é usar documentos diferentes, outra é VIRAR uma pessoa diferente. Não é mesmo?

Será que existem outros casos assim? Tem sim e eu vou te contar:

O maior embusteiro da paróquia

Todo mundo quer ser “alguém na vida”, é verdade. Mas não Ferdinand Waldo Demara. Ele queria ser “alguéns”.
Demara entrou para o seleto grupo dos maiores embusteiros de todos os tempos. Ele fez-se passar com incrível êxito por teólogo, psicólogo, doutor em Filosofia, diretor adjunto de presídio, professor e até cirurgião.

Em 1941, depois de desertar do Exército e da Marinha dos EUA, ele ingressou num mosteiro de Kentucky, com um nome falso de Robert Linton French, doutor em Filosofia. Declarou-se cansado da guerra e desejoso de “encontrar a paz naquela ordem religiosa”.
Não foi fácil! Demara teve que se submeter às rígidas regras e disciplinas dos monges… Mas não conseguiu. Ele começou a roubar comida do mosteiro e se empanturrar escondido. Ninguém descobriu, e ele acabou sendo enviado para trabalhar nos vinhedos, onde ele se juntou com outro monge lá e violaram os votos de silêncio, além de se banquetearem, com as uvas. Ninguém iria descobrir se o tal monge amigo dele não desse com a língua nos dentes, arrependido. Assim, Demara foi expulso do mosteiro.

Enquanto a maioria dos impostores acaba sucumbindo às próprias mentiras, Demara foi vítima de seu próprio talento. Ele foi descoberto em 1952, quando ele estava numa aventura espetacular. O sujeito era tão 171 que estava usando as credenciais de um médico seu amigo, o Dr. Joseph C. Cyr, para obter uma patente de tenente médico na Marinha Real Canadense durante a Guerra da Coréia.
Ele conhecera o Dr. Cyr quando se fizera passar por um médico estudante de Teologia em New Bronswick. O jovem doutor Cyr pretendia uma autorização para praticar medicina no estado do Maine, afim de exercer a profissão tanto nos EUA quanto no Canadá. Demara ofereceu-se para apresentar as autoridades médicas lá do Maine a documentação do “amigo”. Lógico que o Joseph verdadeiro confiou nele e o Demara assumiu a identidade do cara para ser aceito na Marinha como Dr. Joseph Cyr.

Deu certo e ele entrou.

O seu primeiro serviço como oficial como médico à bordo do Cayuga foi extrair um dente de um comandante. Desesperado, já que ele nunca nem sequer havia imaginado como arrancar um dente na vida, deu uma desculpa e se retirou para os aposentos, onde começou rapidamente a ler como arrancar dentes num livro de estomatologia.
No dia seguinte ele era “especialista” naquele troço. Inteligentíssimo, Demara havia aprendido muito com o livro, de modo que surgiu completamente seguro de si e aplicou uma injeção de novocaína e arrancou o dente com a destreza de quem “já fazia isso há mais de dez anos”.

O sucesso em arrancar o dente do Capitão lhe empolgou de tal maneira que Demara revelou um incrível talento para a medicina e até a CIRURGIA! Seu primeiro caso grave aconteceu quando foram trazidos à bordo 3 soldados sul-coreanos feridos, sendo que um deles tinha uma bala alojada perto do coração.
Perante a assistência aflita de vários membros da tripulação, Demara operou os soldados, removeu as balas e os suturou com a habilidade e experiência de um médico cirurgião consagrado.
Foi tão bem feito o trabalho que doze horas mais tarde o soldado operado já estava em condições de desembarcar do navio. Uma semana depois, o navio voltou à mesma Zona e demara desembarcou para fazer uma visita ao seu “paciente”, que se encontrava bem melhor e restabelecido.
Enquanto esteve em terra, Demara verificou, consternado, a falta de assitência e instalações médicas adequadas. Então ele montou uma clínica, onde trabalhando sozinho começou a realizar diversas operações e amputações.

O povo local começou a considerá-lo um herói. Não demorou a que o caso chegasse aos ouvidos dos oficiais do Cayuga, e o encarregado de relações públicas da Armada no Extremo Oriente preparou uma reportagem que enaltecia seus feitos.
Decorrido menos de uma semana, a história saia nos rádios e jornais americanos e canadenses. Demara foi convocado a se apresentar na cabine do comandante. Em tom embaraçado, Plomer declarou-lhe que recebera uma mensagem oficial nos seguintes termos: ” Temos informações de que Joseph C. Cyr, tenente médico numero 0-17 669 é um impostor. Retire-o imediatamente do serviço ativo. Repetimos – Imediatamente. Investigar e comunicar resultados para o chefe do Estado-Maior da Armada em Otawa”.
“A casa caiu”

A história fora publicada no New Brunswick, e por um capricho do destino, foi lida pelo verdadeiro Doutor Joseph Cyr, que imediatamente reconheceu o jovem médico humanista como o 171 que havia se oferecido para levar seus documentos para a América e sumiu, o vigarista da Universidade de S Luís.
Demara foi enviado para o Canadá, onde respondeu inquérito militar e posteriormente foi exonerado.

Você acha que ele parou?

Pois é, não parou. Demara vendeu sua história para uma revista, e com o dinheiro que ganhou saiu vagando a esmo, em busca de algum trouxa para passar a perna, até chegar a Huston, no Texas, onde leu um anuncio de jornal que pedia um funcionário para a prisão.
Com o nome falso de Ben W. Jones, ele se candidatou ao cargo apresentando como referências os certificados recebidos de pessoas fictícias que ele mesmo inventou. Colou.
Tal como habitualmente, Demara rapidamente aprendeu tudo que podia sobre o oficio e virou “expert” da noite para o dia. Organizou aulas e sessões esportivas para os presos. Seu trabalho foi tão bom que ele subiu na carreira de forma meteórica. Com a atenção do diretor do Departamento de Correção do texas, O.B. Ellis, Demara foi convidado para aplicar “seu método” na prisão de Huntsville, onde estavam presos os mais perigosos bandidos no Estado.
Demara entregou-se com entusiasmo ao novo trabalho, organizou aulas, planejou exibições de filmes, e estabeleceu um regime de atividades que despertou a atenção e interesse dos presos.

Tudo ia super bem, mas no auge de seus êxitos, o desastre estava iminente.

Um dia, ao ler uma revista, um dos presos descobriu que Ben W. Jones era Ferdinand Waldo Demara, aliás, Joseph C. Cyr, Cecil B. Hamann e outros.

Ellis convocou uma reunião de oficiais prisionais que interrogaram duramente Demara. Perante a revista que lhe mostraram, Demara se negou a a assumir que era ele aquele homem. Fez como os políticos safados do Brasil fazem quando são pegos de calças curtas: Colocou a culpa nos algozes. Disse que estava sendo vítima, e esbravejou que os oficiais, seus colegas, estavam dando mais crédito à palavra de um preso que à dele. Não obstante começou a gritar irado, de forma muito convincente que aquilo ofendia sua honra e desafiou para um duelo de morte qualquer um que desconfiasse dela!
Os colegas arregaram com medo.
Naquela noite mesmo, ele fez as malas e deu no pé, pois sabia que a história não tardaria iria cair por terra.

Tempos depois, quando lhe foi perguntado porque havia feito aquilo tudo, ele apenas respondeu: “Por pura diversão”.
Tempos depois se ordenou sacerdote. No início dos anos 60 Demara trabalhou como conselheiro na missão de resgate da União no centro de Los Angeles. Em 1967 Demara recebeu um Certificado de Graduação em Bíblia de Multnomah Bible College em Portland, Oregon .

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Demara teve várias amizades com uma grande variedade de pessoas notáveis ??durante sua vida. Isto incluiu uma estreita relação com o ator Steve McQueen , a quem Demara deu a Extrema Unção, em novembro de 1980.
Quando notícias sobre ele e seus golpes passados foram descobertos no final de 1970, ele quase foi demitido do Hospital Bom Samaritano de Orange County, em Anaheim, Califórnia , onde trabalhou como capelão visitante. Chefe de Gabinete Dr. Philip S. Cifarelli , que havia desenvolvido uma amizade pessoal com Demara, pessoalmente aval para ele e Demara foi autorizado a permanecer como capelão. Demara era um ministro muito ativo e apreciado, que serve uma variedade de pacientes no hospital. Poucos daqueles com quem ele interagiu no hospital sabia de seu passado colorido. Devido à limitação de recursos financeiros e de sua amizade com Cifarelli eo Dr. Jerry Nilsson, Demara foi autorizado a viver no hospital até a sua morte, mesmo após a doença o obrigou a parar de trabalhar para eles em 1980. Dr. Nilsson foi um dos principais proprietários de Good Samaritan Hospital de Orange County.
Demara morreu no dia 7 de junho de 1982 com a idade de 60, devido à insuficiência cardíaca e complicações de sua condição de diabético que exigia as duas pernas de ser amputada. De acordo com seu obituário no New York Times , ele estava morando em Orange County, Califórnia , durante oito anos. Ele morreu na casa de Dr. Jerry Nilsson, em Anaheim, Califórnia. A casa foi chamado de “Casa de Pedra”, por seus proprietários.
Demara virou personagem de filme. Em “O Grande Impostor” (1960), uma versão fictícia de sua vida, estrelado por Tony Curtis como Demara.

O golpista que enganou Amaury Jr.

Anos atrás, eu estava zapeandno na Tv quando parei para ver o programa do Amarury Junior. Foi quando vi pela primeira vez o dono da companhia aérea Gol, um gordinho, sorridente, de Abadá. Eu não sabia, mas naquele dia eu estava vendo um capítulo da história do 171 no Brasil acontecer bem na minha frente.

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Aquele não era o dono da Gol. Aquele era simplesmente Marcelo Nascimento, o cara que se autointitula “o maior picareta do Brasil”. Há até um filme com Wagner Moura no seu papel (bem errado no roteiro) e um documentário (muito bom e detalhado) sobre ele. O cara é praticamente o Demara brasileiro, e com esteróides!

Marcelo Nascimento da Rocha já foi filho do dono da Gol, guitarrista do Engenheiros do Hawaii, líder do PCC, entre outras dezenas de identidades falsas.

As opiniões sobre Marcelo Nascimento da Rocha são quase tão numerosas quanto as 16 identidades falsas que ele amealhou ao longo de sua carreira no crime. Marcelo já foi policial de grupo de elite, guitarrista dos Engenheiros do Hawaii, olheiro da seleção, campeão de jiu-jítsu, repórter da MTV, produtor do Domingão do Faustão, líder do PCC etc.

Sério! O cara já se passou por isso tudo na vida.

De real em seu currículo, constam um lucrativo e arriscado emprego como piloto do narcotráfico, uma série de roubos de avião e uma longa ficha de golpes como estelionatário, como vender motos do exército, vendedor de vagas em uma faculdade de direito e repassador de impressoras apreendidas pela Receita Federal – e claro, que nunca foram entregues.

A maior e mais visível das mentiras Marcelo foi se passar por Henrique Constantino, filho do dono da Gol Linhas Aéreas, no Recifolia, o Carnaval fora de época da capital pernambucana, em 2001. Durante quatro dias, Marcelo foi paparicado por ricos e famosos (ele garante ter transado com duas celebridades – o que é MUITO provável mesmo), entrevistado por Amaury Jr., fotografado para revistas de celebridades e colunas sociais.

De quebra, o sujeito ainda pilotou um helicóptero e um jato particular cedidos por empresários que se tornaram “íntimos do executivo da Gol” em questão de minutos. O cara acabou preso no Rio de Janeiro pela Polícia Federal, depois de transportar no tal jatinho os globais Marcos Frota, Carolina Dieckmann e Ricardo Macchi.

Foi a farsa da Gol que deu fama a Marcelo. Ele virou vilão em matérias da imprensa e herói em diversas comunidades da internet. E sua história foi contada no livro VIPs – Histórias reais de um mentiroso, de Mariana Caltabiano, grande sucesso editorial, com mais de 50 mil exemplares vendidos. (muito bom o livro. Eu já li. Vc acha fácil em sebos)

Aos poucos, desvelou-se o rol de impressionantes histórias do mentiroso contumaz e um golpista de lábia afiada, ex-piloto do crime organizado na fronteira do Brasil com o Paraguai, que enganou o departamento de combate ao narcotráfico dos EUA, incautos que acreditaram ser ele o guitarrista de uma banda de rock conhecida e até líder da facção criminosa PCC, numa rebelião no presídio onde está recolhido desde então.

Recentemente, adotando o discurso-padrão dos presos regenerados, ele garante que pretende pagar sua dívida com a Justiça e abandonar de vez o crime. “A prova maior de que estou me ressocializando é que eu não quis mais fugir”, ele diz, com a autoridade de quem já liderou uma rebelião em Bangu e depois escapou do presídio carioca de “segurança máxima”. Aos 36 anos, ele anuncia que quer usar seu poder de convencimento para o bem – escrevendo livros, ministrando palestras, cuidando dos negócios que adquiriu em Cuiabá com o dinheiro de VIPs, a biografia e o filme, ao lado de sua namorada. E que tal uma carreira na política? “Aí não. Eu tenho meus limites morais.”

Você pode ver o documentário Vips aqui

Na verdade, uma pessoa que se passa por outra, afim de obter vantagem com isso é o usurpador. Mas pode ser também um simples impostor.

Nascimento é ao mesmo tempo, um estelionatário, um impostor contumaz e também usurpador. Outro estelionatário que aprontou tanto que virou filme foi Frank Abagnale, vivido por Leonardo DiCaprio em “Prenda-me se for capaz”

Frank Abagnale
Frank Abagnale

Abagnale foi um falsificador de cheques que deu MUITO trabalho para a polícia dos EUA.

Ele nasceu e foi criado fora da cidade de Nova Iorque no Condado de Westchester, foi um dos filhos do meio de uma família de quatro crianças. Recebeu aulas numa escola católica de New Rochelle dirigida pela Irmandade Cristã da Irlanda. Em 1964 seus pais se separaram, experiência tão traumática para ele que logo saiu de casa. William só voltou a falar com a mãe sete anos depois.

Seu primeiro golpe foi fazendo cheques sem fundo, que descobriu que era possível quando foi forçado a fazer cheques com quantias superiores ao que tinha guardado. Isso, entretanto, funcionou até a hora que o banco parou de emitir mais cheques, o que fez com que abrisse mais contas em bancos diferentes, eventualmente criando novas identidades para isso. Durante este período, Frank experimentou e desenvolveu diferentes técnicas de fraude, como imprimir seus próprios cheques, cópias quase perfeitas dos originais, usando-os e persuadindo os bancos a liberar dinheiro que nunca se materializou, visto que todos os cheques eram devolvidos.

Por um período de dois anos, Abagnale se disfarçou como o piloto da companhia aérea Pan Am. Ele incorporou a personagem de “Frank Williams” para obter voos de graça pelo mundo por troca de cortesia (pilotos ganham viagens de graça para outras cidades pelo mundo por outras companhias aéreas como cortesia quando precisam fazer voos nestas cidades) em voos normais.
No primeiro destes voos, não sabia onde estava seu assento. Uma aeromoça teve o privilégio de mostrar a Abagnale onde estava o assento. Ele conseguiu fazer um cartão de identificação falso da Pan Am através de um modelo e um certificado de piloto da FAA (Federal Aviation Administration). Também conseguiu um uniforme da Pan Am fazendo-se passar por um piloto autêntico que havia perdido o seu em uma lavanderia.
Como todos os personagens deste post, Abagnale tinha inteligência muito acima da média. Aprendia rápido e era dotado de grandes capacidades de interpretação teatral. Usando suas habilidades, Frank Abagnale personificou um pediatra em um hospital do estado da Geórgia com o nome de “Frank Conners”.

Depois de fazer amizade com um médico de verdade, tornou-se supervisor residente como um favor para o amigo até que achassem alguém que pudesse pegar o emprego. Entretanto, sendo uma farsa como médico, Abagnale foi quase mandado embora após quase ter deixado um bebê morrer por inanição de oxigênio (não fazia ideia do que a enfermeira quis dizer com a expressão “blue baby”).

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Diferente de Demara, Abagnale evitou realmente praticar a Medicina. Hábil em engrupir os outros, ele fazia com que a maioria das tarefas complicadas que deveriam ser feitas por ele ficassem na mão de outros colegas. Por exemplo, colocar ossos de uma fratura exposta no lugar. Após 11 meses, o hospital achou outro substituto para o seu lugar, e então ele saiu.

Abagnale forjou um diploma da Universidade de Harvard, passou no exame para avaliação do Estado da Louisiana e conseguiu um emprego no escritório de advocacia da Louisiana. Diz que passou no exame legitimamente, porque, “no Estado da Louisiana você pode fazer o mesmo exame quantas vezes precisasse. Era apenas uma questão de eliminação das suas respostas anteriores erradas.”
Dessa forma, ele passou na terceira tentativa.

Em sua biografia, ele descreve este emprego como sendo um Office-Boy que simplesmente levava café para seu chefe. Entretanto, naquele escritório trabalhava um advogado que tinha realmente graduado em Harvard, e ele sempre questionava Abagnale sobre a sua estadia em Harvard. Naturalmente, ninguém pode responder questões a respeito de uma universidade que nunca participou. Isso fez Abagnale demitir-se para se proteger.

Abagnale também forjou um diploma da Universidade da Columbia e ensinou sociologia na Brigham Young University por um semestre, apesar de a universidade declarar que não houve registro de tal emprego.Abagnale foi citado em seu livro apenas como “professor assistente”.

Ao final do contrato, mudou-se para a Califórnia e se envolveu com uma aeromoça (chamada Rosalie nos livros). Para ela, ele revelou sua identidade e tudo o que já tinha feito. Rosalie prometeu nunca contar nada a ninguém, mas em determinado dia, Frank foi localizado pela polícia e imaginou que ela quebrou o trato. Abagnale novamente deu no pé.

Sabe-se que em cinco anos, Abagnale trabalhou com 8 identidades diferentes, além de ter usado muitas outras para fraudar cheques, cujo volume de prejuízos passou de US$2,5 milhões em 26 países. Todo o dinheiro bancou um estilo de vida de bacana, em que ele namorou comissárias de bordo, comeu em restaurantes caros, comprou roupas caras, e investiu bastante para preparar os próximos golpes.

Em 1969 a casa caiu. Abagnale foi preso na França quando uma comissária da Air France reconheceu seu rosto em um cartaz de procurado. Quando a polícia francesa o apreendeu, todos os 26 países em que cometeu fraude pediram sua extradição. Primeiramente ele ficou seis meses na Casa de Detenção de Perpignan na França, onde quase morreu. Depois, foi extraditado para a Suécia onde ficou por um ano na Prisão de Malmö por falsidade ideológica. Mais tarde, um juiz revogou seu passaporte americano e o deportou para os Estados Unidos para prevenir futuras extradições. Abagnale foi sentenciado a 12 anos de prisão em uma penitenciária federal por várias modalidades de fraude e falsidade ideológica.

Em 1974, o governo federal dos Estados Unidos o libertou sob a condição de que Abagnale deveria ajudar as autoridades federais contra fraudes monetárias. Após sua soltura, Abagnale tentou diversos empregos, mas achando-os insatisfatórios, resolveu fazer uma oferta a um banco. Explicou ao banco o que fez, e se ofereceu para palestrar ao pessoal do banco e mostrar vários truques que os fraudadores usam para enganar os bancos.
Abagnale fez a seguinte oferta: se o banco não achasse que o que ele dissesse fosse útil, não precisariam pagar nada; caso contrário, eles lhe deveriam 500 dólares e deveriam divulgar seu nome e seu trabalho a outros bancos. Naturalmente, eles se impressionaram, e assim Abagnale começou sua vida como consultor legítimo.
Mais tarde fundou a Abagnale & Associates, onde adverte o mundo dos negócios sobre fraudes, e organiza palestras e aulas pelo mundo. Abagnale é agora um multimilionário por verdadeiros méritos, através de sua empresa de consultoria de fraudes e prevenção situada em Tulsa, Oklahoma.

Como podemos ver, podem e certamente existem pessoas se passando por outras em diversos lugares. Pode ser até que uma pessoa que você conheça e confie seja na verdade um usurpador neste exato minuto.

A história de Ferdinand Waldo Demara foi publicada no livro “O grande livro do Maravilhoso e do Fantástico” Ed. Seleções do Reader´s Digest 1977 fonte fonte fonte fonte

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

    • Ah, valeu mesmo, Raid. Eu tava tentando lembrar o nome desse cara para o post e n~´ao vinha de jeito nenhum. A merda de ler muito é isso, chega o dia que vc tem o dado na cabeça ou pedaços dele, mas não lembra de onde ele veio.

  1. Interessante “bagarai”.

    A segunda história é extraordinária por demais. O cara simplesmente teve êxito onde a maioria dos outros fraudadores falharia, pois Demara tinha memória fotográfica. Li essa essa informação em outra parte da internet, não sei se tem procedência.

    Quanto ao primeiro caso, quando lido, é até besta. Mas é garantia que qualquer um(a) podia cair numa dessas.

    Lembro de um caso onde o fraudador se passava por comandante da policia havia anos. E um outro em que um homem norte americano se passava por agente do FBI.

    Quando você analisa essas histórias, dois pontos são interessantes: O primeiro é a inteligência dos fraudadores. E o segundo é o mais perigoso, que é a credulidade das pessoas, a tendência a querer acreditar. Por mais inteligente que o ser humano seja, esse calcanhar de aquiles acaba com nossas defesas.

    Acredito que muitos leitores deste blog devem ter conhecimento de alguma história próxima a eles de pessoas que foram enganadas dessa forma.

    “Pra quem ainda não foi enganado, fica o aviso que qualquer um pode ser ludibriado. E pra quem já passou por isso, fica o aviso que qualquer pode ser enganado.”

  2. Hey Philipe, o Natgeo fez um programa contando com detalhes e até reconstitução de alguns pontos da história, essa menina, Gemma, sem dúvida é uma grande atriz, mas quando vemos a entrevista da outra garota, dá pra notar que ela tem algo estranho na personalidade da Jessica, que não foi a única enganada, a Gemma saia com outra menina na mesma época.

  3. Mulher se passar por homem, e muito fácil. Um exemplo disso são “os sapatões”, algums tão bem caracterizado como o sexo masculino que é muito difícil, assim no primeiro instante, reconhecer. Então com um pouco mais de capricho na voz, figurino, gestos e trejeitos pode até ficar impossivel. É claro que essa farsa tem seus pontos fracos. na hora do confronto corpo a corpo, dormir junto, tomar banho, corpos nu,etc. Li uma reportagem, certa vez, qua o pseudo namorado, colocava por dentro da cueca uma camisinha recheada de algodão para imitar um PENIS SEMI-ERETO, para impressionar (e enganar) a “namorada”.
    Agora quanto à esses falsário, estelionatários e golpista, quanto talento desperdiçado, nao é mesmo?

    • Acho que vc confundiu sapatão (que é o termo pejorativo para lésbica) com transexual feminino. Tem umas que tomam hormônio, malham, cresce a barba. É praticamente impossível adivinhar. Mas não é uma fraude, é uma readequação de gênero.

      • Philipe vc me fez pensar sobre uma coisa: se num caso parecido ,uma mulher tivesse feito uma readequação de gênero ,”virado homem” e depois namorado com uma outra mulher sem nunca ter contado que já foi mulher antes ,e só depois essa mulher descobre a verdade sobre o “namorado” ,ela poderia considerar ter sido enganada por uma “fraude” (não sei qual nome seria a melhor definição por isso botei essa) ou não,pois no caso a mulher que fez a readequação de gênero sempre se considerou homem ,e portanto ela teria que ser aceita como ela acha que é,um homem?

  4. Ótimo post, recentemente conheci uma pessoa que tentou me enganar se passando por outra usando um perfil falso em uma rede social, depois de pesquisar bastante na rede social acabei encontrando a verdadeira dona do perfil a quem denunciei sobre a impostora, abrçs.

  5. Uma outra história impressionante é a de Jean-Claude Romand, que virou filmes, entre eles L’adversaire (https://www.youtube.com/watch?v=7TQ_u_2Nwvo).
    O cara mentiu para família por uns vinte anos que trabalhava como médico na Organização Mundial da Saúde e todos compraram essa história. Um dia a casa caiu, e as consequências foram trágicas.

    Um caso nacional é o do José Dirceu, que após ser perseguido pela ditadura fez cirurgia plástica para mudar o rosto e voltou ao Brasil com outra identidade. Ele se casou e até a esposa pensava ser ele esse personagem. Dirceu só revelou para todos, incluindo a esposa, ser quem era após a lei da anistia.

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