Ele viveu há 400 milhões de anos atrás!

Fiquei bolado com a qualidade sensacional deste fóssil de trilobita. Você há de convir que um bicho que habitou este planeta há 400 milhões de anos atrás estar nessas condições, com seus espinhos e tudo mais é impressionante.  Não é uma reprodução artística, é um FÓSSIL! 

Fui pesquisar mais, porque fiquei interessado em saber que tipo de substrato é este que engolfou o bicho mantendo-o exatamente como ele era, e acabei descobrindo outros trilobitas interessantes.

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Muito antes de qualquer outro bicho que conhecemos existir, antes até das baratas, esses carinhas dominaram nosso mundo. Alguns deles são tão bem preservados que as pessoas tem dificuldade de acreditar que são fósseis e não esculturas modernas.

Os trilobitas eram artrópodes nativos do ambiente marinho. Estes animais incríveis e estranhos, possuíam um exoesqueleto de natureza quitinosa, exatamente como é ainda hoje o de muitos insetos, como a barata.  Nos seus exoesqueletos, na zona dorsal, era impregnado de carbonato de cálcio, o que lhes permitiu deixar abundantes fósseis.

O nome (trilobita) é devido a presença de três lobos que podem ser visualizados (na maior parte dos casos) em sua região dorsal (um central e dois laterais). O “tri”  da palavra “trilobita” quer dizer então que seus esqueletos  eram divididos, em três partes:

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  • Cefalão, ou escudo cefálico, constituía a zona anterior da carapaça do animal, incluía os olhos e peças bucais, mas também boa parte do tubo digestivo do animal, e era inteiriço, não articulado;
  • Tórax, zona intermédia, articulada, constituída por um número variável (de dois a mais de 20) de segmentos idênticos;
  • Pigídio, ou escudo caudal, a zona posterior da carapaça, que inclui, em algumas espécies, espinhos e ornamentação variada. O pigídio era, também, uma peça única.

 

A forma do trilobita era bem básica mas altamente funcional. Ao longo do crescimento, eles sofriam várias mudas, descartando sucessivos exosqueletos, tal como sucede com muitos outros artrópodes atuais.

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Em média, os trilobitas atingiam entre 3 a 10 cm de comprimento, mas em alguns casos poderiam chegar a cerca de 80 cm de comprimento! Um monstro para os padrões daquele tempo.
Os trilobites eram, em sua maioria, animais marinhos bentônicos, que viviam junto do fundo em profundidades variáveis entre os 300 metros e zonas pouco profundas, perto da costa, contudo, havia também formas planctônicas. Haviam trilobitas que comiam detritos, outros que eram filtradores e claro, haviam os carnívoros. Eles duraram muuuuuito tempo pela Terra.  Sabe-se que esses animais viveram do Cambriano até ao Permiano. Isso dá o DOBRO do tempo de todos os dinossauros. No Cambriano, eles ocuparam o topo da cadeia alimentar.
O seu sentido da visão era extremamente apurado e foram os primeiros animais a desenvolver olhos complexos. Não sei se seria exagero agradecer a eles por conseguirmos ver as coisas hoje.

Antes desses carinhas, NADA enxergava direito no nosso planeta. Os olhos deles eram bem loucos, por serem ainda muito primitivos. A maioria só diferenciava luz da sombra, o que não podemos considerar como “ver” efetivamente.

Mas foi entre os trilobitas que começou a surgir as mutações que gerariam a visão composta dos insetos de hoje.

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Antes que algum analfabeto me acuse de dizer que insetos evoluíram dos trilobitas, não estou dizendo isso. Estou dizendo que a NATUREZA seguiu caminhos similares, porque eram os caminhos mais lógicos e foram bem sucedidos.

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Havia dois tipos principais de olhos de Trilobitas, cada um composto por lentes frágeis que eram formadas por cristais de calcita; muitos tinham olhos holocroidais, similares aos compostos dos insetos de hoje; estes olhos formavam imagens difusas de qualquer coisa em movimento. Já alguns trilobitas possuíam olhos esquizocroidais, que tinham lentes amplas e arredondadas, estes sim produziam imagens muito bem definidas de coisas e objetos.

Com a evolução, os trilobitas foram enxergando cada vez melhor, mais ou menos como as telas de computador ao longo das últimas décadas.

O fato é que a maioria dos fósseis de trilobitas é minúscula. Encontrar um é relativamente fácil quando comparado com certos outros grupos de fósseis, como alguns dinossauros. Isso porque o trilobita tinha um corpo duro, e assim ele se preservava melhor, e além disso um mesmo trilobita trocava de carapaça periodicamente, e até as carapaças usadas geraram fósseis, que são chamados de somatofósseis.

Basicamente o processo de limpeza do fóssil envolve pegar a pedra onde ele está e ir escavando ela milimetricamente, removendo toda a parte de pedra que não é a parte que substituiu o esqueleto do animal. Não tem mais ossos ali. O que acontece é que o sedimento vai gradualmente tomando lugar do material orgânico, e quando isso acontece, vemos um sedimento de cor diferente (eu não tenho certeza se a dureza tb é diferente, creio que sim). É praticamente um trabalho de arte liberar o fóssil de sua prisão de pedra.

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Uma das grandes dificuldades é que você não pode errar. Não tem undo. Se você errar e quebrar um pedaço do fóssil sua cagada ficará assim para sempre. A coisa é bem pior quando o fóssil em questão é one of one kind, ou seja, um tipo de trilobita onde até então não se achou outro igual. A responsa é ferrada.

 

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Sabe-se pelas análise dos fósseis, que alguns trilobitas eram animais altamente sociais. Algumas espécies faziam uma migração de longas distâncias seguindo quase em fila indiana pelo leito do mar adentro.

“Parece que um monte de comportamento de acasalamento trilobite aconteceu quando eles estavam em uma forma de casca mole”, disse Carlton E. Brett , professor de geologia na Universidade de Cincinnati, que apresentou a pesquisa sobre as relações dos trilobitas à Sociedade Geológica da América e em outros lugares. “Eles se reproduziam nus.”

Aparentemente os trilobitas conseguiam remover suas carapaças durante o período de reprodução. A suspeita é que isso facilitaria as coisas. De fato, fazer a reprodução sem roupa é mais fácil, hehe.

Para investigar a vida social destes incríveis animais, o Dr. Brett e seus colegas analisaram inúmeros exemplos de locais de sepultamento em massa, onde congregações de trilobitas tinham sido presos bem na hora do vuco-vuco em levantes sedimentares causadas por tempestades violentas no mar. Mais ou menos como os moradores de Pompéia foram sufocados e viraram pedra cobertos pelas cinzas do Vesúvio.

Hoje a coisa mais difícil que os cientistas enfrentam é determinar o sexo de um trilobita. Alguns pesquisadores suspeitam que os machos sejam esses que tem grandes espinhos e enfeites mais papagaiados pelo corpo. Seria uma tendência que ainda hoje vemos em certas espécies, como o Pavão. Mas não há consenso sobre isso. O grande volume deles torna o estudo desses animais um evento de permanentes descobertas e terreno fértil para suposições.

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Pesquisadores já identificaram cerca de 20.000 espécies de trilobitas, que variam em tamanho adulto de um quarto de polegada para as dimensões de uma mesa de cozinha. Alguns zanzavam no fundo do mar ou enterrados no sedimento, comendo detritos. Outros, nadavam ou flutuavam perto da superfície, provavelmente para poder caçar pequenos invertebrados.

Os cientistas também vem aperfeiçoando o estudo da evolução de seus olhos.  Os olhos do Trilobita  eram diferentes dos de praticamente qualquer outro animal conhecido. As lentes não eram construídas de proteína, mas de cristais de calcita. Na maioria dos trilobitas, cada orbe composto continha centenas de lentes de calcita pequenas, dispostos em um padrão de favo de mel, similares ao olho de uma mosca. Mas bastante tarde na evolução dos trilobitas,  um grupo deles desenvolveu um tipo diferente de olho, composto por um número menor de lentes de calcita, só que agora elas eram maiores e mais separadas.

Num artigo publicado pela revista Scientific Reports , Brigitte Schoenemann das Universidades de Colônia e Bonn, na Alemanha e Euan NK Clarkson , da Universidade de Edimburgo, usaram técnicas avançadas de digitalização, incluindo a radiação síncrotron , para examinar espécimes. Os esforços se concentraram nas lentes dos olhos dos trilobitas. Na parte de trás das lentes, os cientistas ficaram surpresos ao ver os traços das células receptoras sensoriais que estavam ligadas  ao cérebro.

“Foi extraordinário”, disse o Dr. Schoenemann. “Até onde sabemos, estas são as células mais antigas de um receptor que já foram vistos em qualquer animal fóssil.”

Analisando a microestrutura dos traçados dos receptores, os pesquisadores concluíram que os olhos foram projetados para trabalhar de forma otimizada e com pouca luz. As condições obscuras eram certamente  um sinal de que alguns trilobitas estavam ficando reclusos, descendo para águas mais profundas ou escavando cada vez mais para dentro da lama, provavelmente  para escapar da proliferação de predadores marinhos e de novos crustáceos concorrentes.

(se você acha trilobitas estranhos, espere para ver os predadores deles!)

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Este era  um dos predadores de trilobitas

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Perto do final da Era Paleozóica , os trilobitas, antes dominadores deste planeta haviam sido reduzidos a uma dispersão de espécies.  Mas aquilo seria apenas o prenúncio do fim. A desgraça mesmo, se abateu sobre eles  na “grande extinção do Permiano”,  252 milhões anos atrás, quando não sobrou nenhum para contar a merda que deu por aqui.

[learn_more caption=”Veja um infografico sobre os trilobitas”] Trilobites  Variações sobre um Tema   NYTimes.com[/learn_more]

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Mias um post “nerdicamente” interessantíssimo. O passado é cruel. parece uma velha fofoqueira as avessas. Quanto mais você descobre, ou pensa que descobre, mais o passado esconde seus segredos.

    Antes de ver a foto do cara trabalhando nos fósseis, eu imaginava eles bem maiores.

  2. Rapaz,

    Na minha grande ignorância eu achava que os trilobitas eram apenas aqueles mais lisinhos, parecendo uns besouros.

    Alguns aí das fotos são praticamente proto-xenoformos!!!

    Um super abraço e obrigado pelo artigo,

    .faso

  3. Não é de admirar todos eles tinha praticamente a mesma forma, apesar das variedades e tamanhos?
    E saber se evoluiram para outros seres mais aperfeiçoados ou se simplesmente desapareceram, repentimamente?
    Já imaginou um “ET” com essas formas? Ou se os “ETES” se depararam com esses “bichinhos” naquela época?….?…?

      • Philipe, já li, não me lembro onde, que a marca da tal bota poderia ser atribuída a uma pedra, ou rocha, que teria esmagado o bichinho, e, acidentalmente, tinha tal forma.
        .
        Agora, existe alguma teoria para o fato da extinção deles ter sido tão abrangente? Com a dos dinossauros, até dá para entender, pois a parte “seca” do planeta é menor, em área e profundidade, do que a parte “aquática”. Logo, uma catástrofe, ainda que global, não teria poupado alguns deles?
        .
        O penúltimo exemplar, identificado como predador dos bichinhos, seria um Anomalocaris (“camarão estranho”)?

  4. Sério, não tem nada de muito extraordinário nisso. O mercado de fósseis lá fora é muito aquecido e existem técnicos especializados em limpar as amostras e deixá-los bonitos assim. Existem até cursos em museus para este tipo de trabalho. No Brasil, isso fica na mão dos alunos de pós mesmo. Na África, é um mercado bastante concorrido inclusive. E não é cefalão, é céfalo.

    O Instituto de Geociências da USP tem um museu ótimo, onde dá para comprar réplicas em resina, além de amostras de rochas, um bom material para professores em sala de aula.

    E, lembrando (acho que o post devia ressaltar isso), no Brasil é CRIME colher, vender e repassar fósseis, já que eles são da União. São patrimônio natural brasileiro e só podem ser usados em pesquisas científicas. Quem ver venda de fósseis deve notificar imediatamente a polícia.

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