Outro dia estava num grupo do facebook e vi uma pessoa lá comentar, pesarosa, que é impossível ganhar muito dinheiro sem ser um verdadeiro FDP. Pessoalmente, eu discordo, porque eu penso que dá sim pra ganhar dinheiro sem puxar o tapete de ninguém (talvez eu seja o ulotimo romantico idealista, eu sei), mas pensar como a moça do facebook, é jogar muita gente que enriqueceu trabalhando igual um desgraçado na mesma latrina de picaretas pastores 171 e nepobabies que pululam pela internet presepando seu dinheiro (muitas vezes, sujo).
É claro que uma pessoa pode ficar rica sem passar ninguém para trás. Veja por exemplo, um autor de livros que começa a fazer sucesso. Em certo momento, o sucesso de uma obra vira uma chancela para a obra subsequente, e então veremos um fenômeno literário surgindo. E o cara fica rico. Tem varios autores milionarios aí que vieram do nada. Ou um jogador de futebol talentoso, que emerge da pura e cristalina pobreza para os píncaros da glória.
Mas uma coisa é ser milionário, outra, é ser BILIONÁRIO.
Há uma máxima popular sobre só ser possível chegar nesse patamar de riqueza sendo um belo dum sacana e aí, realmente… Talvez isso possa ser verdade em muitos casos. Pode ser que este seja um desses casos anedoticos que reforça a percepção popular.
Bem, aqui temos um caso curioso, porque não é um cara que saiu do zero pro bilhão, mas três. São três irmãos, com uma abordagem de negócios tão, mas tão sagaz e selvagem, que ficaram multibilionarios e hoje sua fortuna pessoal ultrabassa a marca de um bilhão de dólares para cada um. E como eles fizeram isso? Copiando sites que deram certo. Simplesmente isso. Copiando dos outros, NA CARUDA.
Oliver, Marc e Alexander Samwer estão entre os empreendedores de internet mais bem-sucedidos da Europa. Mas ao mesmo tempo que são um fenômeno, eles são vilipendiados e vistos com desdém por muitos, devidos aos seus métodos, digamos, muito pouco ortodoxos de enriquecimento.
“Os irmãos Samwer são ladrões desprezíveis, como eles conseguem dormir à noite?”
Tuitou certa vez o empreendedor serial Jason Calacanis.
Em um universo onde a inovação é frequentemente celebrada como o coração do empreendedorismo, os irmãos Samwer aparecem como uma anomalia tão intrigante quanto fascinante.
Oliver, Marc e Alexander Samwer construíram um império multibilionário com uma estratégia simples, mas ousada: copiar modelos de negócios bem-sucedidos dos Estados Unidos e replicá-los em mercados internacionais com alta demanda e barreiras de entrada locais.
Uma equipe ágil
Nascidos em Colônia, na Alemanha, e filhos de advogados, os três irmãos foram educados para valorizar o trabalho duro. Jogaram hóquei juntos, compartilharam férias e, desde cedo, alimentaram um sonho: construir algo grande, juntos. Oliver, considerado o mais intenso dos três, é também o porta-voz da trinca. Alexander, com formação em Oxford e MBA em Harvard, é o estrategista cerebral. Marc, por sua vez, tem a reputação de ser o mais carismático e eficiente na execução.
“Nós não somos inovadores, somos construtores”, afirma Oliver. “Outro é o arquiteto, e nós somos os pedreiros que erguem o prédio.”
O primeiro clone de sucesso: Alando
O primeiro golpe de gênio (ou de oportunismo, dependendo da perspectiva) foi em 1999, com o lançamento do Alando. Inspirados pelo sucesso do eBay nos EUA, e ignorados após tentarem contato com a empresa, os irmãos decidiram criar sua própria versão do site de leilões na Alemanha. Deu certo, mas o que poucos falam e que eles ja tinham um plano e sabiam, principalmente de uma estratégia pouco ética, mas bem comum entre grandes negócios. Uma empresa grande compra outra para matar e tirar o concorrente do jogo. Mas se você já sabe isso, pode criar um concorrente artificial apenas para ser comprado depois. Deu certo.
Em apenas 100 dias, a plataforma foi vendida ao próprio eBay por £35 milhões.
Essa venda foi a primeira prova concreta de que seu modelo “copie e adapte” poderia ser altamente lucrativo. A execução rápida e eficiente, uma marca registrada dos Samwers, se mostrava a principal vantagem competitiva do trio.
Jamba! e o Crazy Frog
O segundo grande sucesso veio com a Jamba!, empresa de conteúdo para celulares. Inicialmente com desempenho abaixo do esperado, Oliver transformou o modelo de vendas pontuais em assinaturas, depois, investiu pesado em propaganda televisiva ( torrando nada menos que US$ 70 milhões em apenas 90 dias), e criou um ícone pop da música irritante: o Crazy Frog. Lembra dele?
Frequentemente citada como uma das criações pop mais irritantes da história, a música do Crazy Frog alcançou o primeiro lugar nas paradas de singles por toda a Europa e além.
A magica tornaria a acontecer. A Jamba! foi vendida logo depois para a VeriSign por £176 milhões, consolidando a reputação dos irmãos como especialistas em transformação de ideias em dinheiro, num esquema de “copia, alavanca e vende”.
Rocket Internet: A Fábrica de Clones
Em 2007, surgiu o projeto mais ambicioso: a Rocket Internet, uma incubadora de startups que se autodeclara com grande arrogância como a “ONU dos empreendedores”. A proposta era clara: identificar modelos de negócios que funcionavam fora da Europa e replicá-los em mercados como Brasil, China, Rússia e Alemanha.
Para uma operação com quatro anos de existência, o desempenho da Rocket tem sido extraordinário. Weiss afirma que a empresa lançou cerca de 30 startups até o momento.
Entre os clones mais famosos estão:
- Wimdu: uma cópia do Airbnb, que arrecadou US$ 90 milhões, mas não conseguiu competir com o Airbnb.
- Dailydeal: cópia do Groupon (foi adquirido pelo Google em setembro de 2011 por um valor estimado entre £ 98 milhões e £ 130 milhões).
- Zalando: inspirada na Zappos
- StudiVZ: versão alemã do Facebook
- Lazada: Uma replica da Amazon que eles lançaram em 2012 e venderam ao alibaba em 2016
- Glossybox: Uma imitação da Birchbox. Parcialmente vendido; mas ainda ativo em mais de 10 países, trata-se um serviço de assinatura de caixa de beleza com mais de € 50 milhões em financiamento.
- Sabe a Easy Taxi? (copia do Uber)? É deles também.
A abordagem dos Samwers, ainda que criticada, era meticulosamente pensada: lançar rápido, escalar mais rápido ainda, e sair do jogo com lucro antes que o mercado percebesse que havia um clone operando.
A discussão sobre a cultura de clonagem de Berlim atraiu a atenção de poderosos do Vale do Silício. “Parece que você só chegou lá quando seu aplicativo web tem um clone alemão”, refletiu Michael Arrington, fundador do TechCrunch, em 2008.
O debate moral: Gênios ou parasitas?
Para muitos, os Samwers representam tudo o que há de errado no ecossistema europeu de startups. Loïc Le Meur, organizador do LeWeb, diz que os três estão matando a inovação ao ensinar os jovens a apenas copiar em vez de criar.
Por outro lado, Stefan Glaenzer, crítico inicial da cultura de clonar startups, acabou investindo em um clone do Groupon após ver o seu potencial.
“Eu disse que, mesmo tendo escrito um artigo enorme dois meses antes sobre o quanto eu odiava copiar, eu realmente me envolveria com a cópia.”
Dinheiro, né gente? Sabe como é.
Uma visão pragmática
Oliver não nega que sua estratégia seja pragmática. “Nunca somos os primeiros. Nossa vantagem é construir mais rápido e melhor que os outros.”
Para ele, acusar um site de ser clone é esquecer que indústrias inteiras funcionam assim. Quantas marcas de máquinas de lavar ou montadoras de carros são essencialmente similares?
O argumento dos Samwers é que a verdadeira inovação também ocorre no nível operacional. Se você pode executar melhor, mais barato e mais rápido, isso é, por si só, uma vantagem competitiva. De fato, é um argumento a se pensar.
Contribuição
Apesar das críticas, é inegável que os Samwers impulsionaram o ecossistema de startups em Berlim. A cidade viu uma geração de empreendedores que passaram por empresas clonadas e depois criaram suas próprias startups inovadoras, como o SoundCloud.
“Se você começar copiando, aprende. Depois você inova”, defende o investidor Stefan Glaenzer.
Christian Reber, fundador da 6Wunderkinder, critica os clones, mas reconhece que sem os Samwers, startups como a dele talvez nunca tivessem existido.
Oliver Samwer e Stefan Glaenzer mencionam o setor automobilístico japonês para explicar comouma cópia pode fomentar a inovação. “As pessoas falam do Toyota Prius, mas e todos os outros carros que a Toyota fabricou?”, pergunta Oliver. “Eles foram os primeiros? Não. Antes, a Toyota copiava os carros alemães. Os japoneses copiaram tudo, e então [surgiu] o Prius.” Glaenzer diz: “Se você começar a competir com alguém mais experiente e bem-sucedido, é melhor copiar, aprender e atingir um nível em que possa se tornar mais inovador. É exatamente isso que tem acontecido em Berlim nos últimos 12 a 18 meses.”
O Futuro
Mesmo com dissidências internas e saída de diretores da Rocket Internet, os Samwers seguem firmes. Sua promessa? Continuar Kibando pelo mundo afora e enchendo os bolsos. De preferência, construindo empresas fora dos EUA. “Somos os melhores executores do mundo”, afirma Oliver com confiança.
Enquanto o mundo debate se copiar é ético ou não, os Samwers seguem sua jornada com olhos atentos ao que está funcionando no mundo — e com a mão no cérebro e no bolso, para fazer disso uma nova fortuna.
A história dos Samwer não é somente sobre originalidade. É sobre eficiência, timing e execução implacável. Em um mundo onde ideias são abundantes, talvez o segredo do sucesso esteja mesmo na máxima de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, rei da televisão:
“nada se cria, tudo se copia”
Para os três irmãos, hoje bilionários, o segredo do sucesso está em saber o que copiar, quando copiar, e como fazer melhor do que o original.