A cidade dos mortos

O dia amanhece preguiçosamente. Distante do farfalhar das penas de uma garça que com beleza de graça sobrevoa a superfície ondulada do Rio Ganges, estranhas torres sobem em direção ao céu. Ao longe já se pode ouvir o ruido da cidade despertando. Porém, ainda é um som fraco, que não distrai a gaivota de sua busca incessante por comida. A ave pousa suavemente sobre um montículo de junco e detritos perto da margem esquerda. Ali ela não espera por peixes ou pequenos crustáceos. A ave trepa com delicadeza entre pedaços de galhos, detritos e sujeira. Sem que possa perceber, a pequena ilha em que ela está pousada desce o rio lentamente, girando ao sabor das águas quentes. A Garça arranca com dificuldade algo comestível, que engole rápido, com indisfarçável prazer. É um olho humano…
A pequena ilha é só um dos muitos corpos humanos que boiam à mercê das correntezas do rio Ganges.