Catadora de estrelas

Percorre o canto do asfalto
Na beira do lixão
Na esquina da do assalto
Na boca do valão

No morro lá no alto
Andando na contra-mão
Os olhos no ressalto
No caldo de podridão

Ela veste farrapos encardidos
Chinelo num pé sim, o outro não
Ela cata restos bagunçados
A sujeira da população

Espelho, garrafa, vidro partido
Tampa, pote de requeijão
Retalho, camisa, pedaço de vestido
Latinha, sarrafo, sacola, pedaço de papelão
Vai pegando e carregando, sem futuro, sem emoção

Eu a vejo andar por aí
Dia e noite sem dormir
Catando os cacos da cidade
Negando cada vontade
De uma casa, um barraco, um colchão
Ela cata as estrelas lá do céu
Na palma da sua mão

Catadora de estrelas
Mulher de coragem e decisão
Procura o que comer de passagem
Uma migalha um pedaço de pão
Distrai a fome olhando embalagem
no saco de feijão

Catando pela vida
Os dejetos da desilusão
Vai a catadora de estrelas
Bebe água no ribeirão
Que o povo chama de valão

Quando a noite espalhar no céu vazio
A lua clareia com seu brilho
deita na areia e esculpe o colchão
Catadora de estrelas
Na cegueira da incompreensão

Catadora de estrelas esquecidas
Engole a fome sonhando com comidas
Catadora de estrelas torcidas
Na rua no mato, sem direção
Catadora de estrelas falidas
Segue na correnteza da vida
Catadora de estrelas, recolhe no lixão
Sem escolha Cata o que pode hoje
Até que a vida lhe recolha
num caixão

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. Interessante, bem triste e infelizmente bem condizente com a nossa realidade. Só achei as rimas muito repetitivas, causa um certo cansaço. Mas como não somos camões, tudo vale =P
    O poema em si, tema e a forma com que você colocou tudo ficou de forma bem visual.
    Parabéns, novamente.

  2. Ola meu filho,
    Fiquei sensibilizada ao encontrar sua poesia. Mostra bem sua herança eheheh filho e neto de peixe … Parabéns.

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