Eu tô com pum certo peso na consciência. Comi carne em plena semana santa. Aliás, não só comi carne como foi um churrascão, com direito a carne de boi, frango, linguiça e até picanha suína. Devo ter infringido uns três mandamentos e pelo menos dois pecados capitais.
Mas me falaram que a Igreja Católica abriu mão e liberou o consumo de carne na samana santa, o que eu não sei se é verdade. Mas a irresistível sensação de “burlar” uma regra social no maior país católico do planeta foi grande e acabou rolando um churrasco evangélico lá na minha sogra. Tomei umas cervejas, comi feito um glutão e terminei o dia dormindo na sombra de uma meia parede de tijolo sobre a laje. Quer coisa mais suburbana? Então aqui está:
Eu dormi (desmaiei mesmo)do lado do meu sogro – que também emborcou legal – num colchãozinho que botaram pro meu sobrinho lá. Daí a umas horas depois eu acordei e vi um Urubú voando a nada menos que uns três metros de mim, mané! O Urubú levou mais susto do que eu, hehe, Batendo asa feito louco. Ele achou que eu e meu sogro eramos carniça, hahahah. Fico imaginando que é fácil enganar um urubú. Ele voa lá no alto e olha pra dois corpos jogados sobre uma laje e já pensa: “olha lá aqueles traficantes mortos! OBA!!!”
Mas o urubú sifú. Eu levantei e ele vazou. Resolvi sair da laje profiláticamente, já que o urubú poderia voltar com os amigos dele e eu não tava afim de dar uma de Conan, hehehe. (lembram da cena que ele mata o urubú a dentadas? Muito show. Só o Conan mesmo…)
Na volta, depois de passar pra ver o Vinícius nos deparamos com um grande engarrafamento. Virei pra Nivea e comentei: “Aconteceu alguma coisa.”
Pensamos varias possibilidades, desde assalto, tiroteio, atropelamento, incêndio, suicídio, arrastão e micareta…
Daí um carro que tava na minha frente dá um cavalo de pau e volta acelerando. O cara bota meio corpo pra fora da janela e berra a plenos pulmões: ” SEMANA SANTAAAAAA”
Fiquei imaginando que tipo de facção do crime organizado teria um grito de guerra desse tipo quando a ficha finalmente caiu.
Era uma procissão. O maluco em sua plenitude de ignorância não deve saber o nome daquilo é procissão.
Não faz mal. Eu mesmo, sou católico (daquele tipo mais detestável, que não acredita em quase porra nenhuma, mas faz a firula como manda a sociedade) e não vejo nenhum motivo plausível para essa merda.
Ok, chamar procissão de merda em plena semana santa já é apelar. Tô parecendo a Fernanda Yung. Mas pensa bem, qual é o sentido de um padre e meia dúzia de carregadores de lamparinas saírem andando pelas ruas de uma cidade com centenas – talvez milhares – de pessoas atrás, às vezes com velas na mão?
O sentido parece ser mostrar o poder da fé. Algo do tipo:
Olha só o que nós podemos movimentar! Olha como nós passamos pela cidade toda livremente, atrapalhando o trânsito, pouco nos importando com as pessoas que tem mais o que fazer da vida, olha como nós não damos a mínima para os evangélicos e toda sorte de religiões que não acreditam em dar um passeiozinho entoando cânticos carregando imagens sempre pelas ruas PRINCIPAIS, em HORÁRIO DE MOVIMENTO. Veja como nós dispomos de vias públicas – e portanto não religiosas – para efetuarmos nossa EXIBIÇÃO DE FÉ GRATÚITA!
Eu como católico, batizado, fiz primeira comunhão, casei na igreja católica. Mas acho uma BABAQUICE sem finalidade alguma a procissão. Não vejo motivo bíblico ou sequer religioso para isso senão demonstração besta de poder. È falta de semancol. Será que não passa pela cabeça desses caras que outras pessoas de diferentes religiões podem ficar ofendidas ao ver passar um montão de gente cantando música religiosa na sua porta? Sem nem pedir licença? Se um maluco aí juntar uns mil malucos satanistas e resolverem fazer uma procissão satânica passando na porta da igreja chamando lúcifer, belzebu e satanás, pode?
Os evangélicos podem inventar algo tipo uma procissão pra desfilar tipo um sete de setembro nas vias públicas de maior movimento?
Não, não pode. Só a Igreja católica dá esses showzinhos todo ano. Torça para que você nunca esteja numa ambulância tendo um infarte atrás de uma procissão, meu amigo.
Então neste caso, eu proponho que criemos o fabuloso PROCISSÒDROMO! Depois do autódromo, do hipódromo e do camelódromo, o procissódromo permitirá que a igreja católica efetue voltas olímpicas com seus fiéis sem atrapalhar nem emporcalhar a cidade. Será um circuito oval onde as pessoas poderão dar várias e várias voltas, cantando o que quiserem, carregando santos, andores, cruzes, velas e bíblias sem incomodar os vizinhos.
Não é uma boa ideia? E nos períodos que não tem procissão podemos aproveitar o procissódromo para fazer quermesses, festas juninas e toda sorte de festinhas de cunho pseudo-religioso que tem a real finalidade de encher a paróquia de dinheiro.
Podemos ter grande barraquinhas de pipoca, cachorro quente, salsichão, cocada e tudo mais. Lojas e mais lojas de fitinhas e medalhinhas do não sei o que, santinhos, anjinhos, bíblias, milheiros de folhetinhos do Santo Espedito e quadros piratas da santa seia.
A gente pode incluir uma enorme arquibancada para que os católicos da linha carismática aplaudam a bíblia façam a ola ao verem a óstia sagrada. Ela será reforçada para que aguente que eles dêem pulinhos cantando musiquinhas do Padre Marcelo. No centro do procissódromo botaremos um palanque para que professores de aeróbica ensaiem com os carismáticos as mais recentes coreografias. Afinal, a religião também é um show.