Assombração macabra

Acordei na escuridão

Na boca já saía o meu coração

O peito arfante e o corpo suando frio

Ouvi um grito maldito

Senti um súbito arrepio.

A porta abriu num horrível rangido

E eu pensei também ter ouvido

um macabro gemido.

Era minha primeira noite naquele casarão

Que eu acabara de comprar

Lembrei que o corretor não quis entrar

esperou lá no portão.

Mas com um preçinho que cabia no meu orçamento,

não liguei pro histórico de tormento:

Fantasmas, diabos, criaturas e assombração.

Coisas que o povo inventa.

Quem conta um conto, sempre aumenta.

Eu que não sou de ter medo de bicho papão.

No meio de toda aquela escuridão,

Receava dar de cara com uma aparição.

Mas antes de me desesperar,

Coloquei a cabeça no lugar.

Precisava honrar o meu testículo!

Aquilo era engraçado de pensar,

Machão com medo de fantasma é ridículo

Levantei com empáfia e desafiei o negrume

Se tivesse alma ali que surgisse na minha frente

O tempo passou lentamente,

não teve luz nem fumaça ou perfume.

E eu me senti o mais valente.

A minha moral durou pouco, infelizmente.

Um braço frio e magro me abraçou por trás

E eu senti um cheiro de decomposição herética

Tentei me soltar, mas o defunto era sagaz

Segurou meu pescoço com a mão esquelética

Um rosto sem cor, uma voz de esturpor

Disse “Rapaz…

tua macheza irritou o meu penar!

A gente estava quieto no nosso canto,

e você veio perturbar.

Agora, não resta outra solução!”

Pra meu grande espanto,

Um defunto veio me buscar.

A garganta já queimava no calor da morte

Tentei gritar mas não consegui.

Eu só queria mudar minha sorte,

mas o fantasma apertava forte

E então, desfaleci.

Deslizei na fria escuridão do óbito

Passando rápido por corpos moribundos

Arrastado pela mão maldita

Contemplei meus medos mais profundos

E acordei num grito súbito

Que acordou a vizinhança

Era tudo um pesadelo

De quem enchera muito a pança.

Mas desde aquele dia,

nunca mais tive sossego.

Toda noite mais sombria,

sinto uma trancada no meu rêgo.

Ressabiado a recordação do sonho me espanta

E ainda sinto aquela mão gelada na minha garganta.

FIM

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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