A privada lá de casa

Teve uma época em que eu pensei que o sanitário aqui de casa estava com possessão demoníaca. A cada descarga ele enchia, a merda ia até a borda, naquele nível que se cai uma gota explode tudo e então descia lentamente. O capeta que possuiu o vaso lá de casa ia engolindo gradativamente o caldo repugnante: Glub, glub,glub… E no final ainda saia tipo um barulho “Ahhhhhh” no melhor estilo comercial de refri, ou arroto de mocinha bonita.


Eu achei aquele troço bizarro, mas confesso que só tomei uma providência mesmo no dia que explodiu merda pelo banheiro todo.
Aí tive que tomar uma providência. Chamei “os homi que desentópi tudo”.
Eles vieram e trouxeram uma mala de apetrechos. Eu esperava que o cara tirasse uma arma laser lá de dentro, mas ele tirou um ferro torcidinho na ponta. E então eu pensei: Porra essa grana toda para usar isso aí?

O cara não se fez de rogado, arrancou o vaso do chão a la “Incrível Hulk” e meteu o braço no tubo, enfiando a vareta no cano. Eu não sei porque fiquei ali, atentamente acompanhado todo o desenrolar daquela cena. Quase um balé.

Há de se ter gosto estético para apreciar o desenrolar do balé que é o desentupimento do vaso da privada. O cano por si já era uma obra de arte, forrado com um belo marrom que variava do avermelhado-tijolo ao limo das montanhas do do sul do Cazaquistão.

Depois de balançar pra lá e pra cá o ferrinho, a esta altura coberto com uma nata que fez participação especial em alguns pesadelos posteriores, o cara finalmente pescou uma coisa que veio embolada num tufo de cabelo e merda.

Era um daqueles badulaques de plastico que a gente coloca na beira do vaso, nas melhores das intenções, querendo o cheirinho lavanda e patchuli, num toque de frescor, com estrelinhas, pétalas de rosa e unicórnios-cor-de-rosa saltando a cada descarga.

O “homi que desentópi tudo” olhou para o pedaço de plastico retorcido, pegou ele – ECA! – na mão e falou:

– Eu já sabia. É sempre este troço!

Na hora eu me liguei que já devo ter visto este cara em algum lugar narrado pelo Galvão Bueno. Mas a verdade é que depois que o bagulho saiu agarrado com o smeagol peludo lá do cano, nunca mais o vaso deu revertério.

Eu imagino que o capeta seja na verdade esses pato purific sei lá das quantas que as donas de casa insistem em colocar na beiradinha do vaso. Confesso que sempre que eu vou nesse tipo de ambiente privado, não resisto a mijar direto em cima do trocinho, para fazer a água ficar coloridinha. Enquanto gradativamente me alivio, vou imaginando o dinheiro descendo naquele caldo colorido com aromas da floresta.

O que eu não gosto é um que parece um disquinho, duro e geralmente rosa ou branco,  que fica amarrado do lado do vaso numa tira de plástico. Esse é uma droga, porque ao fazer xixi nele, respinga tudo.

O interessante dessa coisa é que a sociedade parece renegar o cocô. O cheirinho de cocô é substituído por um cheiro de Quisuco industrializado. Para piorar, tem daquelas pessoas que tem mania de pegar o “bom ar” que de bom só tem o nome, pois pra mim aquela porcaria é um desodorante de pobre tamanho família e dar um sray tão demorado quanto mandar o afrescalhamento individual.

PSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSH. E tome outro jato: PSHSHSHSHSHSHSHS…

Tem aqueles caras que tentam encobrir as evidência do famoso Número dois apelando para estratagemas praticamente militares. É o caso do fósforo.

O cara vai lá, entra na casinha, manda o maior barro do universo. E depois pensa que acendendo um  insignificante fósforo irá livrar o mundo do perfume fétido de suas entranhas.

Há ainda aqueles ogros que se orgulham da obra. Lembro de um antigo chefe meu que era um verdadeiro especialista em “perfumes anais”. O cara mandava a coisa mais abominável da Terra e depois abria a porta, em direção aos funcionários. Dava duas basculadas com a porta para que o perfume invadisse o ambiente  e ainda ficava comentando, com um ar blasé de enólogo:

– Hoje meu cocô está com um toque frutado, com marcas sutis de passas, damasco, fumo queimado e lima da pérsia…

Embora existam os poucos que se orgulham dessa hábil desenvoltura corporal, a grande maioria se sente mal de imaginar que outro poderá ouvir o nascimento e sentir o cheiro do seu cocô.

Há pessoas inclusive, que tem altos problemas em função disso. Já ouvi dizer que tem pessoas que tiveram que ser internadas, pois ao viajar com um grupo, não conseguiram, em momento algum, dar aquela barrigada.  O que resultou num enfezamento horrendo que só pode ser resolvido com o dedo de um (a) enfermeiro (a).

Os japoneses parece que resolveram a questão do cheiro com maquinas que jogam jatinhos perfumados. Tem até um botão que toca uma musica alta dentro do vaso! Sim, porque também tem os que se desesperam com o barulho. Nada é pior que estar num banheiro grande, limpo, silencioso e… Ploft. Catapluft. Sguishhh,cataplaft. Prrrrrrrrrrr, pleck, plaft, buick. (o “buick” é a gotinha da água caindo)

Passar por algo assim pode ser constrangedor ao extremo, principalmente se você é uma mulher bonita, e segundo a  lenda, mulheres bonitas não fazem coisas assim.  O certo é que o barulho em certas situações pode ficar bem pior que o cheiro propriamente dito.

Outro dia, visitando os meus amigos Anne e Dalmo, descobri que há uma ampla gama de possibilidades para evitar o refluxo do vaso. Aquela cuspida que ele te dá no traseiro quando despenca lá de cima o seu torpedo. Segundo o Dalmo disse, cobrir a água com folhas de papel higiênico previne a água bater na bunda quando o troçolho mergulha.

Eu não sei, deve funcionar. Confesso que nunca tentei porque fui corretamente adestrado pela minha mãe a não cagar na rua. Não por qualquer tipo de frescuragem, como colocar o bumbum na privada, bobeira clássica que afeta 6 a cada 7 mulheres.

Eu sou porcão mesmo e não tenho dessas frescuras. O problema é que com três bacuris, se um resolvia cagar na rua, os demais também iriam querer e isso acabaria virando um pesadelo pra minha mãe. Teve uma época em que bastava eu entrar num restaurante para bater uma vontade incontrolável de mandar o barro. Desde então, ela estabeleceu que não podia fazer cocô na rua. No início era difícil e eu acabei cagando nas calças umas duas ou três vezes. Mas colho os frutos dessa adestração feliz até hoje. Não faço cocô na rua salvo em casos de emergência. Entenda emergência como “diarréia”. O que me leva a saber que a sinfonia dos barulhos e o perfume decorrente do ato são constrangedores ao extremo.

Outra coisa interessante que eu descobri com a “Aula de como cagar na rua” da Anne é que se você tiver shampoo ou qualquer outra coisa que faça espuma abundante ao alcance, não hesite em jogar no vaso. Segundo ela, a espuma gerada aprisionará magicamente o cheiro do seu cocô, num cluster espumoso de gás que vai descendo por água abaixo na primeira descarga.

Agora de longe, a situação mais ridícula que existe é o cara chegar no vaso e após executar o serviço, caprichar no número dois,  descobrir que o papel higiênico que havia era o suficiente apenas para recobrir o tubo de papelão e não daria conta da lambança nem mesmo se aquilo se tratasse de um pum-alarme falso.

A solução nessa situação é se desprender de todo seu apego material e se limpar com a cueca, ou calcinha, caso seja o caso. Pior fica para aqueles machos hedonistas que não usam a cueca. Ou das moças lúgubres que usam apenas aquele fio dental minúsculo. É nesta hora que o lado McGuyver da personalidade da gente aflora. Meia, cueca, aquela gravata, a capa do talão de cheques e até dinheiro vão parar no lugar que nunca, ou de acordo com o caso, raramente vê a luz do dia.

E assim, aliviado, o sujeito sai da casinha, lava as mãos com bastante água e sabão para perfumar o ambiente e volta para o trabalho esperando que o próximo a entrar no banheiro tenha problemas neuronais nos captadores de cheiros da fossa nasal.

Receba o melhor do nosso conteúdo

Cadastre-se, é GRÁTIS!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade

Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.
Previous article
Next article

Artigos similares

Comentários

  1. Falando em bom ar, o pior é aqueles novos que são pequenos e ficam presos na parede. Aquilo é um veneno. Leiam o rótulo, diz até que não pode aspirar! Um bom ar que não pode aspirar! HA! Pior que aquilo já me deu até alergia na pele que durou meses!

  2. Esse tópico foi super agradável de ler hahahahahaha Ri muito também.

    Acho que a pior sensação que qualquer ser humano pode sentir, depois de ter algum ente querido morto, é a sensação de uma diarréia dentro de um ônibus lotado, no meio de um engarrafamento sem fim a kilometros do banheiro mais próximo.

    Confesso que já passei por isso umas duas ou três vezes. Em uma delas eu estava voltando de uma aula de direção, na época em que fazia auto-escola, e pintou aquela pontada do demônio na barriga. Coloquei na minha cabeça que só iria cagar quando chegasse em casa e resisti heróicamente por uma meia hora de ônibus mas foi tudo em vão. Na esquina da rua da minha casa eu me caguei todo, foi foda.

    Depois dessa experiência eu aprendi a não menosprezar uma diarréia e então quando isso aconteceu outra vez, a caminho da faculdade, já estava suando frio dentro do ônibus. Foi aí que me lembrei da última experiência e pensei que dessa vez seria mil vezes pior, pois eu estava longe de casa e não teria nenhuma condição de eu me reestabelecer. Então desci do ônibus, entrei no boteco mais fuleiro que já vi na minha vida e falei pro cara do balcão:

    – É o seguinte, eu te dou R$10,00 se você deixar eu usar seu banheiro.

    Nem esperei a resposta dele, botei a nota no balcão e corri pro banheiro. Foi a sensação mais maravilhosa da minha vida.

  3. Acompanho o blog a pouquissimo tempo (dois dias para ser exato)
    mas tenho que dizer que esta de parabens. Achei interessante, a
    ponto de voltar a ler postagens antigas hehe
    Resumindo… vida longa ao Mundo Gump \o/

  4. Ri muito desse último comentário. Pra quem não entendeu, a referência das “3 conchinhas” é do filme Demolition Man (o Demolidor), com o Stallone. Em um futuro idílico, não se usa mais papel higiênico pra limpar a bunda, o serviço é feito com 3 conchas misteriosas que ficam em cada banheiro. Só que no filme nunca é explicado como elas são usadas…

  5. Rapaz, coisa porca é o tal do papel higiênico. Na rua até que vai, agora, dentro de casa? Eu mesmo sempre cago e tomo banho. Papel higiênico é uma das mais grosseiras “disfarçadas” que existem.

  6. Parafraseando Philipe: “Ploft. Catapluft. Sguishhh,cataplaft. Prrrrrrrrrrr, pleck, plaft, buick. (o “buick” é a gotinha da água caindo) ahuahauahua”.
    Cara, muito bom este post… ri muito, acho que todos temos uma boa história pra se contar por conta da “vontade involuntária”, cagadas não planejada ou qualquer outro nome rs… Excelente Philipe, você é um exímio contador de Histórias!!! Parabéns!!! :happy: :happy: :happy:

    PS: O comentário do nosso amigo Fernando Martini, foi bem “profundo rs”, também já passei por uma situação muito semelhante, que só desejaria ao meu pior inimigo… rs!!!

  7. Q NOJO!
    ja vi uma cena parecida c\a descrita,,, no meu trabalho…entupiu ,,, e o cara fez a mesma coisa…. mas eu nao fiquei p\ ver……. era banheiro masculino,,ja era um fedor desgraçado,mas o tiozinho fez a mesma coisa
    écati,

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Advertisment

Últimos artigos