White Walker – pintura e finalização

Olá pessoal. Espero que estejam bem. Aqui está a continuação do White Walker. Já peço desculpas antecipadamente porque este post tem muita imagem!
Se você não viu desde o inicio, a parte 1 está aqui e a parte 2 está aqui.

Após postar a parte 2 e receber alguns feedbacks dos leitores, fiz ajustes na pose. Ele realmente tava meio tristonho, meio sofrido, numa pose mais pra um zumbi. E de acordo com especialistas na série, o White Walker não é um simples zumbi, mas sim uma espécie lá meio fodona e tal. Daí que mudei a pose para um peito mais estufado, a cabeça projetada pra cima, numa pose mais “metida”. Agora ele traz a lança consigo, mas não se apoia nela como um velho. Achei que deu mais dignidade ao personagem. Também refiz as mãos, que não estavam me agradando, o que me permitiu aproveitar a viagem para caprichar nas unhas compridas do White Walker.

 

Eu também criei um tipo de adaga caprichada, e prendi ao cinto dele. Quando eu estava satisfeito com a pose e detalhes criados, tava na hora de assar. Aí começaram os problemas.
O White walker não cabia no forno!

FUUUUUUUUUUUUUUU!!!

Eu não consegui tirar ele da base para assar, de modo que a solução que eu achei foi arrancar fora a lança e assar separada. Tive também que espremer a cabeça dele na parte de cima do forno, de modo que ele ficou com a cabeça chata. Isso eu resolvi facilmente depois, com um pouco de apoxie. Ele assou numa boa e para minha surpresa praticamente não rachou (é normal algumas massas de escultura racharem, porque nossos fornos são muito potentes e esfriam devagar. Curiosamente, se você tira a peça do forno e tasca na geladeira, as rachaduras reduzem tremendamente) mas como isso envolvia o risco de danificar a peça dado o alto grau de detalhes e o tamanho jumbo dele, deixei esfriar no forno. Só deu pequenas rachaduras no peito. Calafetei com apoxie e ficou zero bala.

 

Aí tava na hora de meter tinta!

Como em todas as esculturas que eu faço, a primeira ação é dar um banho de tinta preta nele. Eu pito absolutamente tudo de preto.

 

 

Uma vez que ele estava pretão, o passo seguinte é pintar ele de azul. Eu sei que é estranho. Dá um certo cagaço de fazer merda e o personagem ficar papagaiado. Mas vamos em frente. Minha experiência de anos e anos pintando boneco me dizia que eu devia meter um azulão nele e assim eu fiz. Virou um Na´vi, hahaha:

Claro que o boneco não é azul. Mas eu queria o azul surgindo em pequenas frestas, como se ele estivesse congelado e para isso eu precisei dar um azul no carinha inteiro. O passo seguinte é ir em camadas.

Fiz um azul chumbo misturando com cinza e apliquei em pincel seco por cima, deixando o azul mais claro vazar em algumas partes. Olha como já dá um “Up”:

Note que eu estou fazendo ainda a cor de “fundo” do White Walker. É a cor que aparece nas fendas e rebaixos da pele de maracujá de gaveta dele. Não repare na bagunça. Esse cara revolucionou o meu escritório. (todo boneco revoluciona)

O passo seguinte é ir com variados tons de cinza, aplicando em pincel seco (secão mesmo) sobre a peça. Aí eu vou esbranquiçando ela num tom cada vez mais claro de acordo com a profundidade. Quanto mais superficial, mais clara a tinta. Como são muitos passos, fotografei só no fim.

 

 

 

Eu também não fotografei cada um das infinitas etapas de pintura do cinto e saiote de couro dele. Achei que o post ficaria grande demais, além de eu não querer pegar na câmera com a mão cagada de tinta.

Uma vez pintado o cinto, os detalhes, aquele cordãozinho com bolotas coloridas e contas, (um troço de doido pra pintar sem cagar tudo) eu estava pronto para levar o boneco a um outro nível de detalhamento. É aqui que entra o efeito especial desta peça. Os olhos.

Os olhos do White Walker brilham no escuro num tom azul fantasmagórico. Inicialmente, pensei em fazer isso com leds, de um jeito meio parecido com o que eu fiz no Yoda. Mas então, me ocorreu uma ideia mais legal. Usei o meu pó magico que brilha no escuro.  Quando você tira ele da caixa, ele esta assim.

 

Mas basta apagar a luz para… Pã!

 

 

Se um cara da Idade Média visse isso, certamente eu ia parar na fogueira na Inquisição.

Show, né?

Bom, eu sabia que somente cobrindo os olhos do boneco com o pó não daria o efeito que eu queria igual ao da série (que é feito em pós produção). Fazer no 3d é fácil, como como fazer no mundo real sem ficar escroto?

Como eu já planejava fazer isso desde o início, usei esferas de plástico branco no lugar das esferas de aço tradicionais que eu uso. A razão para isso é que eu poderia derretê-las depois para usar o espaço aberto para criar um depósito do pó ali, aumentando a força do brilho.

Usei este instrumental, que aqueci com o soprador térmico ( Ou o secador de cabelos do Chuck Norris). Uma vez bem quente, eu usei este instrumenta no olho, afundando ele como na foto abaixo.

 

 

 

Então, eu misturei o pó com verniz de vitral transparente. Isso formou um gel que brilha no escuro. Com uma espátula eu apliquei nos olhos. O passo seguinte foi pintar a pupila de preto. Ao contrario dos bonecos que eu faço, este não cobri o olho com uma gota de resina em função da necessidade de mais pó, para acentuar o brilho.

O brilho do olho do White walker é relativamente fraco, se o ambiente estiver muito iluminado, praticamente não se vê, e por isso, eu pintei o olho de um azul bem forte antes de aplicar o pó. O pó tem uma certa trasnparência, e isso me permite ter um boneco que na luz tem um olho azulado, mas se você baixar a luz um pouquinho… Pã!

 

Engraçado esse olhar de maníaco que o personagem tem.

O passo seguinte é adicionar cabelos. Inicialmente, pensei em fazer com aquele tipo de fibra finíssima que tem nuns cabos de rede. Aquilo é tipo uma fibra de nylon muito fina. Porém, aprendi com a escultura da Vovó elfa que o cabelo não reage bem com a luz, ficando co um brilho de cabelo de Barbie. E eu não pretendia foder o meu white walker com um cabelo de Barbie.

A solução foi usar o cabelo que eu comprei da china para colocar em alguns modelos do zumbi C. Aquilo lá é uma fibra sintética, bem fina, mas não tem o brilho fajuto do cabelo de boneca.  Outra vantagem é que ele vem num tipo de pelúcia compridona, e eu posso cortar no tamanho que eu quiser. Assim pude não só fazer o cabelo como a barba também.

Colar o cabelo é sempre um pesadelo. Eu uso cola diluída em água para me permitir reposicionamento e evitar grudar demais. É preciso deixar secar naturalmente, pois o secador de cabelos derrete os fios. COm os olhos mais os cabelos, o boneco dá uma transformada:


Nesta foto a cola ainda não tinha secado. E eu também ainda não havia aparado a barba. Sabe como é… Psicólogo, aderecista, bonequeiro e agora cabelereiro… Se o Marco Feliciano ler este blog vai mandar me curar, hahaha.

Eu modelei os cabelos para parecerem ser empurrados com o vento.

O passo seguinte envolve mais um efeito especial.  O White Walker tem essa lança com uma ponta comprida de gelo. Eu pensei imediatamente em fazer a ponta da lança de resina cristal. A resina cristal é basicamente resina de poliéster transparente, um tipo de caldo fedorento que você mistura com um pouco de reagente (catalisador) e ela endurece, virando um plastico e liberando calor no processo. Mas fiel a minha promessa de só mexer em coisa fedorenta depois do Davi fazer 1 ano, mudei os planos.

A resina cristal é legal, mas faz cagança, fede muito e no fim das contas, tem um tom meio amarelado-esverdeado que bota tudo a perder. Para grandes volumes de simulação de água, ela funciona bem como no Aquarex. Mas aqui achei que não ia funcionar legal. A solução que eu descobri para fazer um gelo que pareça gelo mesmo, ao ponto de ter que botar a mão pra ver que não é, chama-se Álcool polivinílico. Este é um outro material que provavelmente ninguém (normal) conhece. Vamos falar de química agora:

[box] Álcool polivinílico (algumas vezes abreviado como PVOH, PVA, ou PVAL, do inglês polyvinyl alcohol) é um polímero sintético hidrossolúvel cuja fórmula é (C2H4O)x[/box]

Este produto químico é um pó branco, com granulometria variada, que você só consegue comprar por encomenda em lojas de produtos químicos. Basicamente, esse troço é um dos componentes da famosa “cola branca”. No caso, o álcool polivinílico é a parte da goma da “cola branca” e na fabrica de cola ele é misturado com persulfato de amônia (branco e fino) e acetato de vinila (líquido incolor). Essas três coisas formam a aquela coisa que você bebia no colégio, hahaha. (você não bebia? Eu bebia)

O lance é que numa primeira olhada o PVOH é assim:

 

Tá vendo este pozinho? É ele.

Mas como fazer para um pó virar uma lança de gelo?

Eu primeiro modelo a lança em massa e depois tiro um molde simples de silicone denso de dentista.

Uma vez que eu faço isso, posso reproduzir a lança de massa com outro material. Então eu encho a forminha de pó usando uma colher de chá.

Eu aperto bem para o pó entrar totalmente no molde. O passo seguinte é pegar um pouco de água e esquentar bem no microondas. Depois com a própria colher, eu molho o molde. Tão logo o pó entra em contato com a água, ele se funde (sério, é igual uma mágica) numa gosma transparentíssima. Porém, aí que está o lance. Essa fusão é tão rápida que ela forma logo uma barreira e nem todo o pó consegue derreter. Isso forma grânulos transparentes, que prendem o ar em seu interior. O resultado, é uma espécie de borracha transparente quase imediata, que você olha e pensa que é gelo. Ao vivo é mais legal que na foto.

 

Muita água quente vai deixando mais e mais vitrificado. Já água fria tende a deixar levemente opaco e compactado, como se fosse uma neve bem endurecida do congelador.

Logo que sai do molde, a lança de álcool polivinílico parece uma borracha e fica toda hora “broxando”. O segredo é colocar numa superfície reta e largar lá até ela “amadurecer”. Leva umas 48 horas para o que era um gel molenga virar um plastico flexível. Passado este tempo, você pode usar um cutelo bem afiado (pra falar a verdade não fui feliz em cortar este treco com cutelo, que ele cegou em dois tempos) ou uma tesoura para ir cortando e moldando melhor a ponta da lança.  Depois colei com super bonder gel, que cola lindamente este material. Acho que tem algo na formula, porque ele é o troço que melhor cola com cianocrilato que eu já vi.

Graças a este método, consegui inserir na lança de gelo uma série de cristalizações e irregularidades como se ela fosse mesmo feita de gelo e não de vidro.

 


 


 


 

 

 

Novamente, usei o álcool polivinílico para fazer a neve sobre a base. Há pessoas que tentam toda sorte de misturebas para fazer neve. Se for em pequena escala, uma boa dica é usar bicarbonato de sódio. Já em escala maior, o bicarbonato fica fajuto. Já o álcool polivinílico, apesar de caro, é sensacional.

Primeiro preparei a base, pintando ela de branco. Sobre ela, apliquei uma generosa camada de massa de moldar acrílica, que é usada para fazer textura em tela. Deixei secar. No dia seguinte, apliquei sobre ela uma boa quantidade de pó de álcool. Veja:

 

Ao aplicar, o efeito na cena parece muito o açúcar cristal. Embora o açúcar cristal tenha uma granulometria alta e cada floco seja quase sempre da mesma forma. Esse treco aqui é um pó amorfo, com grãos de tudo que é forma. Isso permite que ele dê um brilho na luz que lembra muito a neve de verdade. Mas do jeito que esta aí em cima, ele ainda parece sal ou outra coisa seca. Então é preciso “molhar” a neve. Com um copo de água quente e um conta-gotas (é importante o conta-gotas, porque aqui vamos apenas molhar onde interessa, controlando o aspecto molhado onde a gente quer).

Note como nas fotos abaixo a neve perde sua aparência de um pó e ganha um aspecto molhado. Podemos até ver o pé do White Walker afundado nela.

 

 

 

 

Sobre esta camada eu polvilho com mais pó, que só vai aderir enquanto a camada abaixo estiver molhada. Isso dá uma mistura de neve seca e molhada, aumentando o realismo. O passo seguinte é pintar o resto da base e aplicar um verniz, já que fui burro e não lixei ela antes.  A vantagem é que ta tudo grudado, não faz sujeira, e não atrai bichos… Nem fede e é instantâneo.

Feito isso é bater as fotos e postar no blog.

 

 

 













Espero que tenham curtido e até a próxima peça. 

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. muito massa esse boneco, comecei a assistir GOT agora e recomendo pra ti cara, otima série. Cara toda vez que vejo um boneco que você fez fico imaginando como seria colocar ele no armário daquele filme “The Indian in the Cupboard” (a chave magica) no Brasil, foi gravado em 1995, ia ser muito massa, ta eu sei viajei bem longe no tempo agora, kkkkk

  2. Cara, sou seu fã. E, realmente essa solução que você encontrou para o cabelo, barba e neve, são bem melhores que eu citei no outro post. Parabéns mesmo.

  3. Ficou bem legal mesmo, espero que tenha oportunidade de assistir a serie, pois está bem legal mesmo…
    pelo visto vai ter que fazer uns 20 desses pro povo que quer comprar
    mas, a titulo de curiosidade…
    de material? quanto custa um bicho desses?
    pq, por exemplo, você diz que o álcool sai caro, então um pote daria pra quantos bonecos? a massa? o cabelinho? tintas? gás?!? tem como fazer uma estimativa?

  4. Philipe… Você devia pensar em produzir vários desses, sei lá faz o modelo e o molde e alguém faz o boneco e vcs divivem meio a meio, pq eu já vi vários bonecos que vc fez e fiquei morrendo de vontade de comprar.

  5. Cara, curti… Mas tiro o chapéu pro olho e pra ponta da lança… ficaram muito bons mesmo, criatividade 10 pra montar, um abraço!

  6. Caracas! Ficou foda o boneco! Cara, se tu colocar esse boneco pra vender no e-bay deve ter nego que compra, e por quantias de 6 dígitos, se brincar.

    • Hahaha pode crer. Valeu mesmo. Acho que vou fazer uma versão busto do white walker para vender pra galera, ja que tirar o molde deste é impossível por causa do saiote em camadas.

  7. Cara! Como eu já disse, voce é muito inventivo. Nota 10 para as sua soluções!
    Mas não vai dar pra vender pra qualquer “Mane”. Isso é uma obra de arte e como tal se for vender tem que ser muito bem vendida. A não se que voce a use como modelo para uma produção em série!
    Abraço!

  8. Cara, ficou muito legal! Adorei os efeitos dos olhos e da ponta da lança!
    Você é extremamente detalhista e cuidadoso, isso reflete no bom acabamento dos seus trabalhos. Parabéns!

  9. Cara ficou demais!!! esse efeito da lança de gelo e da neve eu nunca vi igual! Muito bom mesmo.

    Tem certeza que não quer vender? leiloa na internet pow, vai dar uma boa grana

  10. Sensacional! Não consigo pensar em ninguém mais merecedor de uma impressora 3D do que vc. Se um dia eu ganhar na loteria, te compro uma! Imagino o que iria sair dali, e em série… Nem que fosse pra vender como garage kit, num pacote com porçõezinhas desses materiais doidos que vc consegue pra fazer os efeitos… Falando nisso, esse pó fosforescente tem em outras cores? Muito dez ele.

  11. Caramba ficou muito bom!!! A parte que eu mais gostei sem dúvida foi a tecnica utilizada para fazer os olhos.

    E cara, descolar esses produtos químicos não deve ser nem um pouco fácil, da onde vc tira essas ideias?

    • Puts, agora não lembro mais. Eu fico olhando ele assar e tiro quando as pontas finas começam a ficar queimadas. NUnca uso uma marcação de tempo muito precisa, até pq os fornos nacionais chegam a temperaturas muito mais altas do que a massa foi projetada para suportar.

  12. Olá curti muito o seu trabalho, mas gostaria de lhe fazer uma pergunta qual tipo de tinta você usa pois fiz um peça queria pinta-la sem perder a textura e os detalhes da pele!!!!!
    E mai uma vez um excelente trabalho meus parabéns brother!!!

  13. Nossa cara, muito foda o seu trabalho! Será que teria como você me falar onde você comprou esse pó fosforescente e se você sabe se pode misturar ele com tinta acrilica?

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