Orc Gigante – Pintura e finalização

Aqui está meu post de pintura e finalização do Orc Gigante.

Este post começa com a peça crua, conforme saiu da minha sensacional impressora 3d Sethi BB. 

 

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Na foto acima podemos ver o tamanho do cabeção. Ela tem aproximadamente entre um milhão e quinhentas mil a dois milhões de camadas.

O primeiro passo antes de pintar é aplicar uma camada de primer na peça, de modo que eu possa ver melhor os detalhes.

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Após ter aplicado duas demãos de primer em spray, eu começo a fazer a cor base.  (não repare na bagunça)

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Essa cor base é aplicada com aerógrafo direto sobre o primer, que serve para segurar bem a tinta. Eu uso diferentes tipos de tinta,  e escolho o tipo de acordo com o resultado final que cada uma dá. Por exemplo, acrílicas são bastante versáteis e tem a vantagem espetacular de serem  solúveis em água. Mas quase sempre dão acabamento brilhante e isso pode ser problemático dependendo da peça. Mas existem acrílicas foscas e eu geralmente prefiro elas, porque se eu quiser brilho, eu boto verniz na peça.  Essa cor base eu faço usando as seguintes tintas:

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Verde oliva e branco. Sempre que posso prefiro as tintas da Mural Color. São ótimas, com qualidade igual às tintas internacionais (isso é, qualidade acima da escolar de 90% das marcas nacionais de produtos artísticos) mas a má notícia é que a empresa aparentemente quebrou e não se acha mais essa tinta em lugar nenhum.

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Bom, o passo seguinte é ir adicionando, com o aerógrafo, mais tons nessa peça.

O que eu fiz em seguida foi criar uma cor meio salmão, com um pouco de vermelho de cadmio e com ela comecei a dar vida no monstro.

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Uma dica boa é a de usar esses copinhos de exame de fezes. O cara da farmácia (o mesmo que já acha que eu sou transformista porque só vou lá comprar unha postiça, cílio postiço, esmaltes coloridos com purpurina, além de bases de maquiagem, sombra e batons) deve achar que eu tenho alguma merda de doença crônica, hahahaha. Eu compro dezenas desses potinhos la. Por que eles são bons? Eles foram inventados para colher MERDA e MIJO, de modo que se eles servem para isso, eles são feitos par NÃO VAZAR!  Cabem uma boa quantidade de tinta, são de um plástico que não derrete com solventes comuns e são ULTRA BARATOS. Alguns laboratórios até dão de graça, mas eu compro porque acho sacanagem pegar de graça pra usar em pintura.

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A primeira camada é sempre mais leve e depois vou pesando a mão para fazer as veias. Note que eu estou fazendo a pele do monstro de dentro pra fora. Essa é a camada subdérmica, por isso é normal ele puxar muito pro vermelho.

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Eu vou fazendo uns movimentos aleatórios o que dá um jeitão mais orgânico na peça.

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Vou sempre da cor mais clara para a mais escura. Depois de algumas veias vermelhas, aplico um pouco de azul na mistura e vou botando mais e mais veias.

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Abro mais um potinho de exame e ali começo a criar outra cor. Essa cor é mais diluída. Ela vai ser aplicada sobre a camada subdérmica, para fazer a pele. E assim eu tenho ela deixando ver as veias por baixo ou não, de acordo com as camadas que eu aplico. Cada tipo de monstro pede uma quantidade dessa camada. Por exemplo, vampiros, usam muito pouca camada de pintura dérmica, são quase sempre puro subdermal.

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Nesse caso entro com um tom de pele e camurça.

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De longe ainda se pode ver as camadas de veias por baixo da “pele”:

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Labios, naiz, orelhas e regiões ao redor dos olhos tendem a ser mais vascularizadas, e assim tons mais quentes sempre aparecem ali.

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Depois eu entro com uma cor de sombra, e vou fazendo manchas.

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Sobre as manchas, um tom leve de pele funciona para uniformizar um pouco.

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Nessa fase começo a fazer a “inflamação” do corte na fuça do Orc. Em seguida vou trabalhar na boca dele, e é por isso que eu tenho que dar uma “isolada” na peça. Uso fita crepe. O mundo seria bem pior se não houvesse a fita crepe.

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Então aqui começa o trabalho na boca:

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Uso a técnica do pincel seco na língua. E dou uma cor de branco fosco nos dentes.

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Aqui começa o verdadeiro suplicio dessa escultura. Cobrir todos os dentes com resina autopolimerisável. Fede igual o chulé do diabo, é tóxica e é um ânus de trabalhar com isso.

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Horas (bota hora nisso!) depois os dentes são todos cobertos de resina de embasamento. Depois venho com a retífica e começo a lixar esses dentes todos, o que torna meu escritório uma sucursal de boca de fumo, com pó pra todo lado.   O passo seguinte é polir. Para polir uso massa de polimento e um rebolo de pano.

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Aplico uma aguada de tinta cor de sujeira nos dentes, para dar aquela aparência de quem nunca viu uma escova de dentes na vida.  Agora posso tirar a fita crepe e aplicar o tom verde, afinal este é um orc de fantasia:

img_20160927_172335511_hdrUm detalhe legal é o olho que brilha n escuro.

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Isso é feito com o uso de tinta fosforescente. Em seguida vou dando os acabamentos, com tons de sombra e verde mais escuro em algumas partes. As cores nunca podem ser muito lineares, ou a peça parecerá um brinquedo. Quanto mais manchado, melhor.

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As feridas dos cortes são pintadas com tons de vermelho, carmim e um pouco de azul. Não tem novidade nisso. É a mesma regra da maquiagem de SFX.

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Com um pincel fino faço veias nos olhos:

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O monstro vai lentamente ganhando vida:

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Agora chega na fase das experimentações. Como este monstro foi impresso em 3d, eu não fiz os olhos dele separados. Eu podia, mas preguiça é uma merda que cobra um preço caro… Então, sem acesso ao olho, eu precisava achar um jeito de fazer o olho mais realista. Por sorte esse bicho era cego de um olho, e meu trabalho se concentraria mais no olho bom, o que brilha no escuro.  Então o que eu fiz foi pegar uma pizza de massinha e ali pressionei uma esfera de epoxi que eu tinha feito medindo a dimensão do olho do monstro. Isso gerou uma série de “crateras” na massinha, onde derramei resina de poliéster cristal.

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Depois de catalisar, eu tirei um cristalino, mas estavam com bolhas, e por isso eu fiz um montão desse troço, para achar uma que desse certo com menos bolhas.

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Esse cristalino é então removido com muito cuidado da massinha e aplicado sobre o olho do monstro.

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O olho da um UP instantâneo quando ganha o cristalino. O passo seguinte é fazer os cabelos. Para os cabelos, eu pensei: Como seria o cabelo dum orc?
O que muitas vezes vemos nos concept arts mostram orcs com cabelos lisos, alguns com rabos de cavalo que parecem ate fazer chapinha. Sempre achei essa porra tosca. Como que um bicho grotescão e selvagem pode ter cabelo lisinho de quem toma banho todo dia com o shampoo e o condicionador da Angélica?
Não, eu definitivamente não ia fazer um orc que usa Monange! Orc tem que ter cabelo de mendigo! E como que é o cabelo de mendigo?

São uns dreads todo embolados, grudados e gosmentos de sebo, formando uns tufos densos e emaranhados. Para fazer este cabelo, eu precisava inventar um jeito e consegui fazendo uma mistura gororobenta de lã merino com óleo. Para isso, eu precisei dar uma tingida na lã, uma vez que a lã merino é branca e meu orc tinha cabelo escuro. Aí voltei na farmácia e de novo o cara que acha que sou transformista sorriu achando que eu ia mudar a cor de minhas madeixas grisalhas. Eu ia comprar enê, mas a moça da farmácia não deixou. Disse que “prejuducaria meus cabelos”. kkkkk Ela tentou em empurrar uns shampoos colorizantes para metrossexuais. Tem uma até com lúpulo!  Porra, se não vou beber a merda do negócio, é muita frescuragem gourmetizante ter lúpulo na tinta de cabelo. Segundo a moça, faz sucesso, apesar do preço. Tem muito homem trouxa no mundo, né?  Mas eu insisti tanto que acabei levando uma tinta boa de cabelo de mulher.

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Já mexi com químicos de toda sorte imaginável em projetos de arte, mas tinta de cabelo de mulher foi uma experiência legal. Primeiro porque a luva que veio logo rasgou e meus dedos ficaram pretos. Ffffuuuuu! Ia ficar parecendo que eu dei aquela dedilhada num roskoff sujo por uma semana! Quando me liguei disso, bateu um desespero, mas consegui remover o treco com um solvente violento que eu tenho aqui.

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Enquanto o cabelo escurecia, (para ter variabilidade de tom, comprei o castanho e não o pretão) eu apliquei o verniz. Aqui eu trabalho com vernizes diferentes.

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A primeira camada de verniz vai ter a função da pele morta. Nós somos cobertos com uma camada de pele morta, e por isso em algumas pessoas com problemas de hidratação, é comum vermos os famosos “joelhos russos”, tá ligado? Isso é justamente o efeito que eu quero. Para ter este efeito, uso o seguinte verniz acrílico fosco: img_20160929_160623745_hdr

Depois de seco o verniz, a cabeça fica assim: O tom de pele ganha uma certa vida e o brilho parece muito mais com pele do que a tinta.

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Agora vem, olha que doideira, outro verniz acrílico fosco. Só que de outra marca. Esse é o lance que eu tinha falado la em cima. Eu não uso o material pelo tipo e sim pelo efeito que ele dá. tenho dois vernizes que deveriam ser a mesma coisa, mas que dão efeito diferentes! O segundo verniz vai fazer “pontos de suor” na pele, porque ele é fosco mais brilha. Sabe como dizia o Tim Maia, sobre o Brasil ser a terra em que puta se apaixona? Então, é a terra em que verniz fosco também brilha:

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Para aplicar os pontos de suor, eu uso o verniz corfix aplicado com pontos, usando um pincel cônico amplo de pelos de porco e cerdas duras:

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Apenas as pontinhas são molhadas e batidas na peça. Isso faz uma microscópica gotinha de verniz fosco que brilha em cada batida de cerda na peça. Isso gera um brilho não uniforme, que dá um efeito mais realista (não sai legal em foto de celular, mas está lá)

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O terceiro verniz que eu uso (são cinco no total) é o cristal. O verniz cristal é este aqui em baixo e o efeito dele é o “wet look”. Faz parecer que tá molhado. Eu uso ele os olhos, na boca, e ate dentro do nariz e nas orelhas.

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Já na ferida eu uso outro verniz, chamado Gloss. Mas na falta do gloss, pode ser o cristal mesmo. O cristal brilha mais que o gloss.

 

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Então aqui vamos nós com a aplicação do cabelo de mendigo no bicho. Parece saído diretamente da cracolândia.

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Os cabelos são aplicados com uma mistura de cola branca com água. A vantagem é que depois que ela seca fica invisível e deixa esse aspecto meio melado.

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Note a tonalidade meio acaju castanho clara no cabelo. Eu fiz isso de proposito, porque depois com o aerógrafo e usando tinta de nanquim preta eu posso matizar esse castanho, dando uma variabilidade tonal nele, deixando mais realista e menos “peruca”.

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Um detalhe interessante dessa cabeça é que eu tirei fora o brincão de ferro que o monstro tinha. Era um torus grosso que eu tinha modelado, mas eu fui na praia e dando uma olhada nas conchas, eis que eu encontro algumas conchas que pareciam brincos. Brincos naturais, primitivos, feitos pela ação do mar. Não resisti de incorporar um elemento real e que traria aquele aspecto selvagem na peça.

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Nesse meio tempo ficaram prontos os escudos de MDF que eu mandei usinar. O trabalhos neles foi simples, apenas uma aplicação de laca:

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É bom aplicar laca no mdf ANTES de lixar, porque o MDF não é madeira. MDF é fibra de madeira com cola. Se você lixar o MDF seco, ele costuma embolar. E a laca previne isso, e também dá uma selada na peça, porque o MDF cru é muito absorvente.

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Depois de dar laca e lixar com lixa d´água, eles ficam bem lisos. Aí é só meter um primer em cima e depois dar uma nova lixa de grão fino.

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Eu pintei com tinta spray preto fosco. Note esses buracos aí. Eu fiz eles para ancorar bem a peça na base. Essa cabeça é fixa na base por meio de resina. Com os buracos, a resina penetra no escudo e ancora muito melhor. Se não fosse isso, tinha risco da cabeça desprender-se da camada de tinta e soltar. Mas ainda assim, era um risco pequeno, porque essa cabeça impressa peça cerca de 1,3 kg.

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E aqui está a peça final:

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Espero que tenham gostado. Até a próxima escultura.

Para mais esculturas passo-a-passo aqui esta o link.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. puta trampo, a melhor coisa é vero resultado final e ter a quela sensação de orgulho. Nunca fiz escultura, só na escola com massinha de modelar kkkkk ficou muito foda

  2. como não gostar Philipe?! Frequento a muito tempo o seu site e pouco (nunca) comento mas o seu trabalho é impressionante! É o cuidado com detalhes que faz a diferença. Um grande abraço e muito sucesso em suas esculturas. Poste sempre que puder os seus trabalhos!

  3. Perfeito.
    Se eu tivesse um bar, um estabelecimento qualquer onde vendesse torresmo, eu pendurava isso na parede e me gabava pros clientes do dia em que adentrei a mata atlântica para capturar o terrível Orc.

    Mais um belo trabalho mano. Parabéns.

  4. Caramba, suas técnicas são muito boas. Ficou impressionante. Eu cobri uma peça de plastico usando o aerógrafo com essas tintas da acrilex e tambem com o verniz brilhante e o resultado ficou tão bom que fiquei me achando o cara rsrsrs Agora vi aqui que tem muitos vernizes diferentes, valeu pelas dicas.

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