A caixa do Dr Van Helsing

Eu queria compartilhar com vocês um projeto em que estou trabalhando atualmente e que me alegra muito. Trata-se de uma encomenda de uma caixa do Dr. Van Helsing, o lendário caçador de vampiros. A caixa é na forma de um pequeno kit, em forma de maleta portátil para um caçador de vampiros.

A grande maioria dos  “kits de matar vampiros” eram essencialmente uma pistola de percussão vitoriana revestida com acessórios para carregamento; um martelo, estacas, um crucifixo e outras ferramentas clássicas do assassino de vampiros fictício, como pó de hóstia e água benta, além de uma bíblia ou livro de orações. Na internet existem vários mas algumas pesquisas de historiadores mostraram que todos eles são fake. Na verdade, a questão que se coloca aqui é não são exatamente fake.

Muitos dos kits de matar vampiros que aparecem nas lojas de curiosidades macabras e eventuais lojas de penhores de credibilidade duvidosa, são apresentados  como peças do século XIX, mas não muito obviamente, são de fabricação recente. No entanto, esses kits sempre atraem muito interesse e produzem intriga online. Olhando mais de perto para esses artigos, você vai descobrir que esses kits (mais de 100 são conhecidos), são fabricados de forma bastante profissional e de aparência totalmente antiga.

Geralmente, é dito que estes e kits de vampiros, em geral, são novidades ou lembranças vitorianas tardias, vendidas aos turistas que viajaram para a Europa Oriental na sequência da publicação de Dracula em 1897. Alguns vendedores e meios de comunicação alegaram mesmo que esses kits foram feitos para os crentes em vampiros, com fins de autodefesa. No entanto, uma pesquisa com o folclore dos vampiros “reais”, isto é, cadáveres exumados por uma comunidade problemática e ritualmente “mortos” como bodes expiatórios por qualquer mal-estar que possa estar afetando as pessoas, não vai localizar qualquer uma evidência para apoiar matadores de vampiros reais que se municiavam com esses kits.

Pessoa considerada “Vampira”, descoberta na polônia. O corpo data do século XVI

Uma breve revisão das histórias e filmes de ficção, é possível notar um gradual avanço num nível quase de “profissionalização” do Vampire Hunter. Isso é interessante, na medida que as lendas são vivas e evoluem também com o tempo.

Observando por exemplo, o desenvolvimento dos vários ingredientes nas caixa de matar mortos vivos típicas de um executor de vampiros, ficou claro que os kits “Blomberg“, como ficaram conhecidos, têm  foco em balas de prata, e eram muito improváveis de existir antes da década de 1930.
Embora construídos a partir de caixas antigas e conteúdos, provavelmente não foram criados até a era dos clássicos filmes de vampiros Hammer.

Outros kits são mais difíceis de definir em termos de data e podem ser até mais antigos, mas ainda não há provas cabais e irrefutáveis disso.

Varney 01

Para alguns, isso pode vir como uma decepção, ou mesmo como uma razão para criticar os kits como fakes, como muitos apressados gostam de fazer.

Os compradores potenciais dificilmente vão comprar sob a apreensão de que eles estão comprando uma antiguidade vitoriana real, na medida em que quem curte essas coisas tem o mínimo esclarecimento necessário para investigar um pouco antes de gastar dinheiro.

Então, por que adquirir esse objeto independentemente? Os museus coletam falsificações deliberadas  por seu próprio mérito artístico e cultural, mas os kits de vampiros não são falsos por si só, porque é simples: é preciso existir um original para que ele seja “copiado”.

E não há evidência de um original vitoriano.

Então, se eles não são falsos, e também não são reproduções (museus costumam encomendar reproduções para peças que se perderam, se danificaram ou são extremamente raras ao ponto de que expô-las colocar em risco sua integridade) , o que esses kits são?

A resposta é que eles são artefatos “hiperrealistas” ou inventados, um pouco semelhantes aos adereços do palco, props de cinema ou itens de mágicos. Eles também podem ser considerados, e de fato foram vendidos como, peças de arte moderna.

Esses objetos enigmáticos transcendem questões de autenticidade. Fazem parte da cultura material do gótico; tangencia e substancia fisicamente os aspectos de nossas paixões literárias e cinematográficas. Sem qualquer artefato sobrevivente de vampirismo, folclórico ou fictício, os fãs do estilo criaram um para preencher a lacuna.  Os kits de matar vampiros são artefatos genuínos da ficção gótica que ainda fornece sustento aos nossos mais amados monstros.

Um aspecto do que eu acho mais legal nessas coisas é que eu uso as mais avançadas tecnologias da prototipagem ara fazer um treco parecer antigo.

Comecei modelando a arma em 3d. Depois ela é impressa em 3d, eu dou acabamento, e então faço um molde, que me permite reproduzir a arma que eu inventei em série.

Ela é feita de resina, mas após a pintura cuidadosa (levo um dia inteiro para pintar uma arma à mão, dadas as diversas etapas de envelhecimento e pátinas)  parece mesmo metal.  E assim eu vou fazendo com todas as coisas.

Esse kit também contém “evidências” da eliminação de pelo menos dois vampiros, em 1829. São as presas serradas num potinho de vidro todo carcomido.

O papel com a data da morte dos vampiros é antigo também! O texto eu criei, e escrevi com caneta tinteiro antiga. ( que ruim que era escrever com isso, hein? O papel daquela época absorve demais e borra tudo!)

O martelo é real, feito de madeira. A Nivea me doou um pedaço de couro de uma bolsa velha dela.

mas as estacas são também modelos 3d impressos em poliácido lático. Fora a arma estacas e martelo, temos um livro de orações antigo de verdade, publicado em 1891, cheio de orações em latim, (ate de exorcismo)  que eu escavei num sebo. A caixa também é antiga de verdade! Compramos num antiquário.

Eu precisei recolocar a fechadura dela. E agora ela tem essa bela chavinha de prata:

 

Eu forrei e fiz o acabamento para parecer suja.  O crucifixo é uma das partes que eu mais gosto na caixa, porque ele é enorme, ocupa a tampa quase inteira e é de plastico também, com pátina para parecer de bronze antigo.

Tem a maior cara de item roubado de cemitério, aliás.
O vidrinho de água benta completa o kit, bem como esse belo punhal (de verdade) envelhecido, com uma estética interessante.

No fim, temos um conjunto que dá um trabalho do caramba para criar, mas que resulta numa instigante peça de decoração.


Curtiu? Em breve inaugurarei minha lojinha e itens desse tipo estarão disponíveis.

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Philipe Kling David
Philipe Kling Davidhttps://www.philipekling.com
Artista, escritor, formado em Psicologia e interessado em assuntos estranhos e curiosos.

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Comentários

  1. SHOW, cara. Cada vez mais você me surpreende com suas habilidades. Parabéns! Eu sei que (he,he) encher tua bola não resolve porra nenhuma, mas bem que eu gostaria ver te ver preparando essas traquitanas. Tem algum vídeo “time-lapse”, no you tube, por exemplo? Se não, já cogitou pelo menos? Abraço!

  2. Muito bom, na verdade, fantástico, como sempre! Essa lojinha vai dar muito certo, se depender de mim kkkkk

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